Por thiago.antunes
Rio - O Brasil sofre há anos de praga que corrói serviços, deteriora obras e prejudica a vida do contribuinte: o trabalho malfeito. Exemplo cristalino de lambança é o BRT Transoeste. Em curtos 31 quilômetros de via, contaram-se quase 300 remendos, como O DIA mostra nesta quinta-feira. Um conjunto de falhas que configura descuido com o passageiro, com o contribuinte e com a busca de qualidade de vida numa cidade duramente castigada pelo trânsito.
Alardeou-se o BRT como alívio para o saturadíssimo tráfego do Rio. A ideia, no papel, é excelente. Na falta de metrô ou outro transporte de massa, pistas segregadas garantiriam fluidez no deslocamento. Poderiam, numa etapa seguinte, reduzir o número de carros — bastariam funcionar para atrair gente disposta a deixar o veículo em casa e a migrar para o ônibus.
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Um ano e meio após a inauguração, porém, o asfalto está repleto de remendos. Vale lembrar ainda o afundamento de trecho da pista, em março do ano passado, que obrigou motoristas a dar voltas olímpicas. Sabendo-se do custo da obra, cerca de R$ 1 bilhão, convém refletir. É custoso acreditar tratar-se de fatalidade ou descartar ter havido desleixo ou má-fé. Uma faixa projetada para receber apenas ônibus — veículos que pesam no mínimo dez toneladas, informação que não exige QI elevado — deveria ter um pavimento robusto, com todas as camadas necessárias para absorver o impacto. Ressalte-se ainda que a obra partiu do zero, bem diferente do BRS, mais uma adaptação com tintas e tachões do que uma construção que deveria ter sido planejada.
E a análise traz outras constatações. Os remendos no asfalto não livram os passageiros de solavancos e danificam os ônibus. Para não quebrar, os veículos precisam reduzir o passo, minando uma das principais vantagens do sistema, o ganho de tempo. Mas o mais desconfortável é saber que cada defeito mal tapado é pago pelos contribuintes. Dinheiro no buraco.