Por tamyres.matos
Rio - Os rolezinhos marcam este início de 2014 como fenômeno com enorme potencial de reconfigurar as bases da sociedade. As ações ainda estão muito incipientes, sobretudo no Rio de Janeiro, mas já despertam polêmica no país todo. Surgem, do simples ato de entrar num espaço não óbvio, manifestações de puro preconceito. Mas, por outro lado, há uma idolatria ao teor revolucionário das invasões que não enxerga o crime quando ele se faz presente.
Um erro temerário ao se analisar um rolezinho é considerá-lo padrão, atirando todos os já registrados num mesmo balaio. Há movimentos e movimentos. Nem todos descambam para a violência: são grupos de jovens da periferia que, sem opções de lazer, reclamam desse apartheid invisível entrando num ambiente onde não são bem-vindos. O desconforto de uns escancara o quão atrasado o Brasil está na justiça social e na igualdade.
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Mas é prudente avaliar também a arruaça. A manifestação perde totalmente a sua legitimidade quando o ‘protesto’ dá margem para algazarra, tumulto e roubos. Shoppings consideram essa possibilidade ao pedir à Justiça liminares proibindo rolezinhos. Como são locais privados, têm direito de assegurar a integridade da propriedade. Mas mexem num ponto bastante sensível: não estariam oficializando a ruptura na sociedade? Não é concretizar o preconceito?
De modo que é necessário, neste momento, saber muito bem discernir tolerância e ordem. Esta última não é um luxo, é uma prerrogativa básica de qualquer nação. Qualquer manifestação que a desrespeita comete um crime e deve ser reprimida. Mas partir do pré-conceito de que todo rolezinho terminará em baderna é praticar a pior das intolerâncias. Equipara-se a defender suprimir linhas de ônibus do subúrbio em direção às praias no julgamento de que todos ali farão um arrastão. Há quem os faça, e estes devem ser punidos. Cumprir a lei não é ser intolerante, e minar preconceitos e o abismo social não precisa depender de violência e agressão. Maturando essas definições, o país avançará.