Por tamyres.matos
Rio - Primeiro se prende para depois julgar. Esse é o atual cenário no Brasil, no qual o sistema carcerário não para de crescer. O último levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontou que a população carcerária do país passou de 471,2 mil para 515,4 mil entre 2011 e 2012, um aumento de 9,39%. E esse total já ultrapassa os 540 mil presos. Na contramão disso, as vagas nos presídios cresceram apenas 2,82% no mesmo período, saindo de 295,4 mil para 303,7 mil. Como se não bastassem esses números, a qualidade das prisões é a mais precária possível, e o conceito de ressocialização há muito se perdeu.
A realidade das penitenciárias, cuja média de ocupação é de 1,7 detento por vaga, é desumana. Em alguns estados, como Alagoas, cada vaga suporta 3,7 detentos. Um barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento. Aliás, o recente episódio no presídio de Pedrinhas, no Maranhão, chocou toda a sociedade com cenas de corpos decapitados, fruto de brigas entre facções. Foram mais de 60 presos assassinados. Além disso, os presidiários ordenaram ataques e mandaram incendiar vários veículos, entre eles o ônibus em que foi morta a menina Ana Clara Souza, de 6 anos.
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No Estado do Rio a situação não é diferente. No fim do ano passado, traficantes presos no Complexo Penitenciário de Gericinó autorizaram ataques que resultaram na morte de um PM e do menino Kayo da Silva Costa, de 8 anos. No último dia 7, três detentos conseguiram escapar, rendendo o diretor, e realizaram fuga armados.
Um cenário de caos no qual o sistema penitenciário deveria ter investimento na construção de novos presídios; porém, mesmo havendo mais de R$ 1 bilhão de verba em caixa, isso não acontece.
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E essa realidade só mudará se a Justiça se reformular. Cerca de 50% da população carcerária ainda aguarda julgamento, o que significa que estão pagando por algo que ainda não foi julgado. A maioria é formada por pessoas pobres, da classe baixa, sendo que 70% não completaram o Ensino Fundamental e 10,5% são analfabetos. Dos presos, mais de 70% vivem em total ociosidade.
Enfim, não faltam vagas para tantos presos. Faltam critério, agilidade e coerência da justiça. Falta uma política de ressocialização efetiva e tantas outras coisas. Falta seriedade das autoridades para lidar com um problema que fere a Constituição, fazendo com que um cidadão cumpra pena antecipada, sem mesmo ter sido julgado.
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Marcos Espínola é advogado criminalista