Por tamyres.matos

Rio - Nossa sociedade vive a nos ensinar a suposta importância do ‘ter’ e também a do ‘ter cada vez mais e o melhor’, já se deu conta? Não basta ter um celular, um tablet, um carro ou qualquer outro bem material. É ‘preciso’ ter o mais moderno, o que demonstre maior status, o que melhor chame a atenção e impressione. Parece que temos sido treinados para dizer quem gostaríamos de ser pelo que temos. Mas será que realmente nos realiza sermos reconhecidos pelo que temos?

É até difícil, inclusive vergonhoso, ter a coragem de perceber que, sutilmente, ao longo dos anos de capitalismo, vem sendo tecida, no nosso ambiente social, uma geração de invejosos, sob o pretexto de uma contínua insatisfação pelo consumo. Por que nos preocupamos em ter tantas coisas? Será que somos sinceros, conosco mesmo, quando afirmamos que é para mais conforto, qualidade de vida e nos damos explicações desse tipo? Ou será que estamos apenas desejando ocupar um papel diferente daquele que realmente temos, querendo ser alguém mais bem inserido em nossos grupos sociais, por ter mais bens, por estar no suposto mesmo nível aparente de outra pessoa?

Neste ano em que a Arquidiocese do Rio nos convida a viver a caridade, convém lembrar que precisamos usar de caridade também conosco, respeitando nossa realidade e limitações. E talvez a maior libertação que possamos conceder a nós mesmos seja reconhecer que mais importante do que ter é ser!

Mas quem, na verdade, somos? Somos filhos de Deus! Temos tudo, mesmo quando parece não termos nada, porque, de fato, tudo é do Pai e somos seus herdeiros! A Palavra de Deus nos adverte sobre a caridade: “Não tem inveja.” (I Cor 13,4a) Então, se eu e você, numa atitude de generosidade sobre as cobranças exageradas que nos impomos, nos reconhecermos como alguém que “é” e não como alguém que “tem”, tudo muda. Não há mal algum em possuir bens materiais, mas há na forma com a qual nos relacionamos com esses bens e no modo como nos apresentamos, por causa deles, aos que estão ao nosso redor. Até porque Jesus nos ensina:

“Não andeis preocupados com a vossa vida, pelo que haveis de comer; nem com o vosso corpo, pelo que haveis de vestir. A vida vale mais do que o sustento e o corpo mais do que as vestes.(...) Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber; e não andeis com vãs preocupações. Porque os homens do mundo é que se preocupam com todas estas coisas. Mas vosso Pai bem sabe que precisais de tudo isso. Buscai antes o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo.” (Lc 12,22b-23; 29-31).

Então, a sugestão de atitude concreta é o contato com nossos irmãos deficientes intelectuais. Eles têm muito a nos ensinar com a descoberta e respeito aos seus limites, com a pureza que externam quem são. E há muitos deles que sequer recebem visitas... Eu preciso me concentrar no foco ‘ser’. Sei que, sempre, ‘ser’ será mais frutuoso que “ter”. E você, topa rever seus projetos tendo caridade para com você mesmo? Então, ‘tamu junto’!

Padre Omar: é o Reitor do Santuário do Cristo Redentor do Corcovado. Faça perguntas ao Padre Omar pelo e-mail padreomar@padreomar.com. Acesse também www.padreomar.com e www.facebook.com/padreomarraposo

Você pode gostar