Por thiago.antunes

Rio - Semana passada, uma pessoa, intelectual que nos últimos meses defendeu e estimulou os black blocs, me disse que eu deveria ser mais generoso com esses grupos. Ressaltou que, para compreender os mascarados, seria importante lembrar dos meus 20 anos, dos meus ímpetos, dos meus excessos. A conversa foi motivada por um artigo nesta ‘Estação Carioca’ e por comentários que publiquei no Facebook relacionados à morte do colega Santiago Andrade, cinegrafista da Band.

Na resposta, eu disse que, por ter bem mais que 20 anos, ela deveria agir de forma mais sensata. A violência é também uma forma de expressão política, mas quem a comete precisa arcar com suas consequências. No mundo inteiro, grupos que recorrem ao terrorismo (não estou chamando black blocs de terroristas) assumem o que fazem. Por aqui, manifestantes que provocam violência tiram o corpo fora, jogam nas costas da polícia a culpa pelo caos nas ruas.

Policiais cometeram erros, arbitrariedades e crimes na repressão aos manifestações, mas não foram responsáveis por todos os problemas. Muitas vezes, na maioria dos casos, agiram depois da confusão provocada por grupos de mascarados.

A absolvição prévia dos atos cometidos por manifestantes deu-lhes um certo respaldo moral. Receberam uma espécie de carta branca para agir; por mais que se excedessem, estariam protegidos. Filhos de uma sociedade injusta e envolvidos em causas nobres, poderiam quebrar patrimônio público e privado, hostilizar e agredir jornalistas, queimar ônibus e carros de reportagem, tacar pedras e lançar rojões a esmo.

De seus computadores, pessoas com bem mais de 20 anos os incentivavam, os justificavam, os incitavam. A culpa seria sempre do outro, da polícia, do Estado, da “mídia corporativa”. Em ato público, instalações da UFRJ chegaram a ser oferecidas para que “ativistas e midiativistas” se organizassem e conspirassem. Mas essas pessoas com bem mais de 20 anos não cumpriram, porém, o papel de alertar os jovens que crimes mais graves seriam punidos com o rigor da lei.

A imagem do suspeito de ter disparado o rojão que matou Santiago desperta raiva e pena. Se for condenado, pagará pela irresponsabilidade de lançar o artefato contra uma multidão. Ele e seu cúmplice perderão anos de suas vidas na prisão, o que é justo. Mas aqueles que os instigaram continuarão livres. Talvez promovam um ato de solidariedade, talvez escrevam uma análise crítica dos fatos. Colocarão a culpa na imprensa, no Estado, na polícia — quiçá, no mordomo.

E-mail: fernando.molica@odia.com.br

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