Por thiago.antunes

Rio - ‘Tríduo Momesco’. Jabor usou a anacrônica palavra na sua crônica de terça. E no Natal certamente vai usar ‘bimbalham os sinos’. Ambas desencavadas por Ivan Lessa, arqueólogo de palavras esquecidas nos arquivos de antigos jornais. E vai em frente: “O Carnaval hoje parece uma calamidade pública, disputada pelo narcisismo oportunista de burgueses se despindo para aparecer na TV.” Burgueses. Ô, rapaz, a última vez que ouvi a palavra foi na Passeata dos Cem Mil.

Como quatro em cinco entrevistados na TV dizem, o desfile das escolas é o maior espetáculo do mundo. De acordo, só que não é de samba, melhor chamar de Cirques de Soleils Tropicais. Homem-bala, acrobatas canadenses, tecnologia de primeiro mundo. Sem falar na japa-paulista da Vila Isabel. Até o cegueta do Mister Magoo notaria o branqueamento do desfile. Com exceção de negros na bateria — por motivos óbvios — e dos empurradores dos carros, a esmagadora maioria é de brancos ricos (que podem pagar pelas fantasias caríssimas).

Pois é: neste Tríduo Momesco fugi para Itaipava. De Carnaval , só o bloco É Pequeno mas Cresce e a mini-Jose (pronuncia-se Jôse), do Art Café (Shopping Estação). Todos os anos ela se fantasia de Frida Kahlo. Na vitrola de agulha, toca LPs com marchinhas cantadas por Francisco Alves. Mas não se animem, Itaipava não é nenhum paraíso. A coisa aqui também tá ruça.

A cidade — ou distrito, como chamam os petropolitanos que desfilam aqui com pose de ingleses na Índia colonial — lembra o Rio: montes de lixo por toda parte, restaurantes aumentando preços e piorando a comida e o serviço. No domingo a luz da minha rua faltou durante mais de 18 horas (uma árvore caiu sobre a fiação), o trânsito entalou.

A Ampla conseguiu ser mais inepta do que a Light. Isso aqui virou bagunça: a prefeitura autoriza a construção ilegal de prédios acima do gabarito, todos de quarto e sala. Cada um deles, quando ficar pronto, vai despejar pelo menos mais um carro no engarrafamento. Como em Brasília, aqui não tem calçadas; os pedestres, até com carrinhos de bebê, se arriscam na pista da União-Indústria. Até pouco tempo o pessoal dormia com as janelas abertas, mas com a polícia dando duro lá embaixo, a bandidagem está começando a subir a serra.

De qualquer maneira, feliz Ano Novo para todos. Como disse Aristóteles Drummond, no Brasil o ano começa só depois do Carnaval.

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