Por bferreira

Rio - Bastaram 15 minutos para que o complexo de favelas da Maré fosse ocupado pelo poder militar do governo do Rio. Logo em seguida, num espetáculo midiático, 2,7 mil homens das Forças Armadas chegaram. A farda se fazia presente. A ação do atual governo do estado perpetua o programa de pacificação de comunidades carentes dominadas pelo poder armado do tráfico, mas ainda reacende dúvidas sobre sua eficácia social.

O questionamento que faço caminha relembrando o passado. Os ‘coturnos’ serão uma nova etapa no processo civilizacional daqueles cidadãos ou mais um regime de exceção, em que o toque de recolher priva os mais pobres de seu cotidiano? A chegada do Estado precisa superar as características publicitárias da pacificação e da encenação e mudar de uma vez por todas o jogo para o carioca da Maré.

São 150 mil vidas crentes de uma esperança anunciada como a salvação da opressão praticada por facções criminosas e a possibilidade de serem atendidas por serviços públicos de qualidade. O abandono na comunidade por políticas públicas é tamanho que, em todos os indicadores, a desproporção de serviços e o contingente populacional é marcante.

Montanhas de lixo e esgoto a céu aberto, muito entulho e doenças que se alastram. Na falta de poder público, restou a degradação. A recente ocupação, que teve seu ápice no fim de semana, precisa solidificar bases da cidadania e reintegrar o território ao que é mais essencial sobre direitos humanos, Saúde, Educação e moradia.

O Estado precisa evitar que seus policiais, como o Leidson, morram na mira do tráfico. Também deve evitar as graves distorções de uma polícia militarizada, que em alguns casos julga, pune ou executa suspeitos, se pondo acima do próprio Estado Democrático de Direito. Moradores de favelas não podem ser tratados como subcidadãos quando o controle do ir e vir se torna absoluto pela polícia. Não nos esquecemos de Amarildo nem de Cláudia Ferreira.

A escala de progresso social precisa, a partir de agora, superar todas as dificuldades já acumuladas em décadas de exclusão. Essa superação, contudo, só pode ser impulsionada por ideias que priorizem o ser humano que mora na Maré e não somente uma bandeira política de governo. A pacificação não pode se pautar apenas como proteção às elites e se distanciar das demandas mais preciosas: as populares.

Que a Segurança não se limite a interesses eleitorais, mas ao trabalho pleno e integrado, protegendo a vida do povo e lhe dando o justo tratamento de cidadão carioca.

Jandira Feghali é médica, deputada federal pelo PCdoB e líder da bancada na Câmara

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