Rio - Um dos sintomas da bipolaridade é o fato de as pessoas com esse diagnóstico começarem cursos e outras atividades profissionais sem terminar. É o popular ‘começa tudo e não termina’. Na maioria dos casos, são pessoas com uma série de talentos e habilidades. Aqui começa a questão. O que escolher? O que se observa é que, desde muito jovens, são reprimidas e criticadas nas suas escolhas profissionais, dificultando, assim, a escolha pertinente. Desestimuladas para atividades profissionais não tradicionais, são convencidas a seguir caminhos distantes dos seus interesses. Como consequência, e em decorrência da insegurança típica desse diagnóstico, acabam aceitando e fracassando. Atendem mais à ansiedade dos pais em vê-los encaminhadas e caem em descaminho.
A dificuldade de foco na escolha é atitude que depende da maturidade emocional que não possuem — por vezes, nem os pais. Há um erro de percepção a respeito do começar e não acabar. Centrar a questão nesse aspecto não é o correto. O fracasso reside antes na má escolha em seguir o desejo do outro. Vejamos: por que levar adiante uma escolha profissional de outrem fora da sua própria área de interesse?
Nessa movimentação, acabam atendendo a ansiedade e sugestões de parentes — pai, mãe ou amigos que, na ânsia de vê-los engajados em algum caminho, entendem que ajudar é sugerir o que fazer, no lugar de pensar e ajudá-los a escolher caminho dentro das suas aptidões e interesses.
Em tese, ninguém deve se tornar o desejo de alguém. Os jovens do contemporâneo rompem estruturas e expectativas retrógradas, são os homens dos séculos 20 e 21, nasceram em tecnologia. Nessa transição são afetados por ela, globalizados. Suas escolhas profissionais precisam ser acolhidas dentro desse contemporâneo.
Existem e vivem frente à máquina que os conecta ao mundo. Pensar um jovem dos dias atuais a partir do início do século passado é covardia, falta de empatia, erro cruel. O que foi o ideal e correto um dia, que ainda é para alguns jovens, pode não ser para outros. Vivemos o século das singularidades, em que enquadramentos do passado são como roupas de outro tempo para alguns, nesse caso,os ‘diferentes’ dos nossos dias.
A universidade não é mais saída para todos, esse ‘marcha soldado’, essa homogeneidade precisa conviver e aceitar o heterogêneo, o diferente, o que foge ao comum na sua escolha profissional, e precisa ser apoiado na busca de lugar laborativo, sem ter que abrir mão de seus interesses e aptidões.
Falo do jovem de mente criativa, disperso, que transita dentro das suas mil possibilidades e precisa eleger uma, seguir em frente, não perdendo tempo e ganhando rótulos indevidos que podem marcá-lo por uma vida, abortando um profissional capaz dentro dos seus potenciais não viabilizados e incentivados. Participar do processo de escolha, com interesse verdadeiro, consiste na ajuda que pode eliminar o rótulo, já roto, dos que começam e não terminam nada. Verdadeiramente, não deveriam ter começado, que dirá acabado!
Fernando Scarpa é psicanalista