Por bferreira

Rio - Pobre de um país que remunera mal seus médicos da rede pública e, por isso, se vê obrigado a enfrentar desgastantes negociações entre profissionais e governos, numa rotina de paralisações que maltrata sobretudo os pacientes. O problema vira tragédia quando em situações dramáticas como a morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, que chocou o país na segunda-feira. Como justificar um enfartado não ter socorro na porta de um hospital tido como de referência justo em cardiologia, por mais que se repise que a unidade “não tem emergência”?

Há duas questões a considerar. Uma é a busca legítima por melhores condições de trabalho e salário digno. A imensa maioria dos brasileiros que depende do SUS conhece muito bem as precariedades do sistema, que sobrecarregam médicos e comprometem o atendimento. Correm-se graves riscos, porém, quando a luta se limita a corporativismos com golpes baixos. Descambando para este lado, a causa — qualquer causa — perde o apoio da população.

O outro ponto reside na falta de profissionalismo. As difusas desculpas sobre o que aconteceu com Marigo não permitem esclarecer o episódio — caberá à Polícia Civil fazê-lo —, mas permitem traçar um esboço. Negar socorro a um enfartado é, na essência, um ato tão desumano quanto gazetear o ponto eletrônico e ganhar por horas não trabalhadas ou faltar a plantões e deixar gente à míngua — como aquela menina baleada na cabeça num Natal. Não se pode deixar o interesse e a necessidade ofuscarem o que foi jurado pela vida humana.

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