Por thiago.antunes

Rio - Os antigos gregos chamavam de olimpíada o intervalo de quatro anos entre as edições dos jogos disputados na cidade de Olímpia. Para mim e, aposto, para a maioria dos brasileiros, o que conta é o tempo que separa cada Copa do Mundo.

A primeira que acompanhei, aos 9 anos, ajudou a consolidar a ideia de Brasil, até então algo abstrato, um Pedro Álvares Cabral aqui, uma canção ufanista ali, o hino cantado na escola. A Copa de 1970 me revelou um país concreto, que vestia amarelo, equipe que reunia jogadores nascidos em vários estados. Entre eles, três do Botafogo: devo ter concluído que não haveria problema em torcer também pela Seleção, o preto e o branco estavam representados na Canarinho.

Ao longo dos anos, a camisa amarela também seria adotada por habitantes de outros países pobres, símbolo de vitórias sobre grandes potências. A Copa seguinte me pegou no início da adolescência, fascinado com um mundo de infinitas possibilidades, que girava como o futebol do carrossel holandês. Quatro anos depois, me preparava para o vestibular e, enquanto torcia para a Seleção, ensaiava discursos contra as ditaduras argentina e brasileira — estava ficando adulto.

Em 1982, eu já estagiava, cheguei a fazer, por aqui, algumas pequenas reportagens sobre a competição. Na Copa de 1986, me vi casado, à espera do primeiro filho; na de 1990, fingia esforço para agarrar os chutes que aquele menino de 3 anos dava na bola de plástico. Passou-se uma olimpíada, veio outro filho: o tetra seria comemorado com eles numa pizzaria tijucana. Em 1998, juntos nos frustramos com a derrota na final; aquela Copa me encontrou em outro endereço, em novo emprego.

Em 2002, eu e os meninos, crescidos, fomos ver a vitoriosa Seleção desfilar com a taça nas mãos. Usar a Copa como referência me fez, um dia, perceber que já não era assim tão jovem, notei que moças bonitas e interessantes sequer eram nascidas em 1970. De Copa em Copa, chegamos à de 2014, torneio que marca uma mudança coletiva.

Os gastos com o evento incendiaram as manifestações, ressaltaram nossos velhos problemas. Sem querer, a competição nos ajudou a ver o país, mostrou a necessidade de maior discussão em torno de prioridades e investimentos.

A próxima quinta-feira marcará o fim de um ciclo de quatro anos e o início de outro, fato que sempre merece ser comemorado. Em 2018, nós não seremos os mesmos, o país também estará diferente, escaldado pelos gritos dos protestos e, espero, das comemorações. Que venham a Copa, o hexa e um país melhor.

E-mail: fernando.molica@odia.com.br

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