Por thiago.antunes

Rio - ‘A Taça do Mundo é nossa, com brasileiro não há quem possa...’ Era o ano de 1958, e ganhamos nosso primeiro título na Suécia. Reza a lenda que a música foi composta às pressas para a comemoração. ‘Às pressas’ e Copa do Mundo parecem, no passado e no presente, ter tradição na seleção canarinho. Desta vez acontece aqui e pode voltar a ser nossa, assim, meio que de repente, às pressas, naquele corre-corre típico da última hora. Mas fazer o quê? É o nosso Brasil com suas trapalhadas e surpresas.

Não há dúvida de que não temos condições de sediar uma Copa. Expectativas das mais diversas povoam nosso imaginário negativista ou realista, sobre as trapalhadas típicas do país da última hora, que sempre acaba encontrando uma saída — aquele velho jeitinho brasileiro — e tudo acaba supostamente bem. Vejamos nesta? Afinal, estamos na terra do samba e do futebol e não esqueçamos que a Taça Jules Rimet, conquistada em 1970, no Tricampeonato, foi roubada e derretida, em 1983, deixando de ser nossa em matéria! Ganhamos, levamos e perdemos no maçarico de um ourives.

Se nesse 2014 nossa Seleção — ou “esquadrão de ouro”, como se cantou no passado — vale quanto pesa, não sabemos. Pode ser folheada, vamos ver na hora com eles jogando, “sambando com a bola no pé”, se vai perder a cor e desbotar. Tomara que não. Se isto acontecer, será triste como foi na Copa de 1950, quando perdemos para o Uruguai.

Perdemos o jogo e o desespero estampado nos rostos são inesquecíveis neste mesmo Maracanã, onde assistiremos à final entre dois países que não sabemos quais serão. Palpites não faltam. Deus e as pernas dos nossos craques nos livrem do pior.

Nesse clima de expectativas, viveremos os próximos dias destes meses de junho e julho. Haja coração para aguentar o que vem a partir de quinta-feira, que também é Dia dos Namorados. O clima do país não está favorável, estamos vivendo meio deprimidos, abatidos pelos acontecimentos políticos, econômicos, da contravenção e da corrupção. A estratégia de nos enganar e nos fazer de bobos não cola mais.

Como sobreviveremos a uma possível derrota, se acontecer? As explicações vão aparecer dos mais diversos modos. Mas, no futebol, ou se ganha, ou se perde, ou se empata. Se empate acontece, tem desempate, e isso representa risco. O coração acelera e as pernas dos nossos ‘canarinhos’ de hoje nem sempre obedecem ao nosso comando. Não adianta chutar em frente à televisão, a perna deles não obedece à sua, a estratégia não funciona, não faz gol. É aquele inferno para quem assiste, grita e xinga.

Jogar para ganhar é sempre bom. Escutar a clássica “vamos tentar ganhar o título” é outra coisa. Quando dito, significa pouco empenho e dúvida, logo de partida. Assim, prestando atenção nas falas dos nossos jogadores, é possível perceber o clima de autoconfiança e a franca disposição para a vitória, pelo menos no futebol, nesses dias de desancanto com o país.

Mas que os bons ventos das Copas em que fomos vitoriosos reinem sobre eles, já que o inevitável é aqui. Que o pessimismo dê uma trégua trazendo a boa e antiga alegria das goleadas do passado, salvando esses dias nublados na terra do futebol, nos brindando ao menos, com essa alegria.

Fernando Scarpa é psicanalista

Você pode gostar