Por bferreira

Rio - Foi na infância dos anos 60, TV em branco em preto, Fusca e arroz doce na merenda, que abracei minhas primeiras superstições: chinelo virado e assobiar à noite. O calçado resultava em tragédia familiar. Quanto ao apupo, fantasmas extraterrestres invadiam as próprias vísceras em pesadelos inomináveis.

Não podia soluçar que a testa ganhava um mínimo papel lambido, milagroso feito os três pulinhos à São Longuinho, São Longuinho.

Jamais passar debaixo da escada, pegar tesoura em tempestades ou deixar os espelhos descobertos na mesma chuva que embaça a janela.

Ao lado do olho-de-boi em meio a um copo d'água, uma vassoura atrás da porta pra dispensar os chatos do cotidiano. As crendices eram tantas e tão “reais” que permaneço incólume no coquetel de manga com leite.

O tempo se encarregou de atualizar as cismas. Em grandes exibições, pé direito. Se a vitória foi heroica, repetir as cuecas, o meião ressecado, a camisa do emblema beijado.

O grande artista só veste azul e não aceita cantar os versos do mestre Cartola: “Não concordo! Eu falo, sim, com as rosas...”

Elton John, cantor e lorde inglês, exige que os caules das rosas pro seu camarim não tenham espinhos e meçam exatos onze centímetros

Como a gripe de nariz fungando ganhou senhas de identificação — H1N1, a Influenza A, nossa superstição foi rebatizada de Transtorno Obsessivo Compulsivo, TOC. Sem brincadeira, manias elevadas ao cubo das simpatias caseiras. Bato na madeira três vezes.

Palavras de mau agouro não passam no meu teclado e prefiro não ver a noiva se arrumando pra manter eterna a relação.

Hoje é sexta-feira, 13. A seleção acorda com a primeira vitória, os namorados ainda dormem abraçados e, mais tarde, toco com o Samba do Trabalhador no Teatro Rival.

Penso nos prédios americanos que evitam classificar o número 13 nos andares dos seus arranha-céus famosos.

No fundo, são sintomas que nos traduzem como humanos. Versão patológica dos nossos delírios, somos todos impulsivos e apaixonados.

À euforia, culpo Neymar e as uvas malbec e cabernet. Também credito esse otimismo descabido, uma Síndrome de Zagallo, aos ares da Copa do Mundo. Brasil!!

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