Por felipe.martins

Rio - Há dois tipos de colônias, facilmente reconhecidas pela história: a de exploração e a de povoamento. Nas colônias de povoamento, os habitantes não nutrem esperanças de retornar ao solo de origem e investem em seus negócios e em suas vidas, porque esperam permanecer no lugar de destino, criar seus filhos e sobreviver. Os cuiabanos têm uma expressão que se ajusta a esta situação quando dizem que são “cuiabanos de chapa e cruz”, vale dizer, do nascimento à morte.

Nas colônias de exploração, ensinaram que a metrópole colonizadora era a cidade mais bela e que tudo o que vinha de lá era melhor. Aprendemos, então, a amar a terra dos outros e tudo o que havia por lá. Salvaram-se, felizmente, “as aves que aqui gorjeiam” porque não gorjeiam como as de lá, segundo Gonçalves Dias.

As classes dominantes nestas terras exploradas locupletavam-se na simbiose com os governos coloniais, mesmo à custa de propinas e subornos. Grassava a corrupção.

Foram estas classes que, junto ao imperador Pedro II, ajudaram a falência do Barão de Mauá, facilitando os negócios ingleses da época em detrimento dos nacionais. Concluída a maior guerra civil do Império, a Farroupilha, os gaúchos viram o seu charque ter cotação menor no mercado que o produto dos vizinhos do Prata.

Quando Oswaldo Cruz lutou contra a febre amarela, sobretudo na cidade do Rio de Janeiro, foi atacado por parte da imprensa que se posicionava contra a vacina por absoluta falta de informação. O mesmo pode ser dito em relação à revolta política que se aproveitou dos levantes contra a vacina.

O Rio só não se posicionou contra a construção da Ponte Rio-Niterói e a abertura da Avenida Presidente Vargas porque foram obras realizadas em governos ditatoriais. No entanto, quando se tratou de rasgar a Avenida Rio Branco, organizando parte da cidade, houve forte oposição. Não precisamos relembrar as vozes do atraso quanto ao Aterro do Flamengo, o contorno do Morro da Viúva e a transferência da rodoviária da Praça Mauá para a Novo Rio.

Toda a formação cultural que nos forjou ao longo do tempo é a mesma responsável por ser contra melhorias significativas, como a do Porto Maravilha. Obras causam transtorno, porém, revigoram o espaço. É nessas horas que vemos quanto uma educação profunda pode influenciar a mentalidade das pessoas e transformá-las em defensores de tudo o que favorece aos outros.


Hamilton Werneck é pedagogo e escritor

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