Por bferreira

Rio - Mais do que a boa vontade demonstrada por faixa expressiva de cariocas e fluminenses que concordariam em ceder parte de sua água aos vizinhos paulistas — 60% de 870 entrevistados, segundo pesquisa do Instituto Gerp, divulgada ontem pelo DIA — o problema do desabastecimento em São Paulo, que abriu polêmica entres os dois estados, vai muito além de um simples gesto de generosidade. A pretendida captação do Rio Paraíba do Sul, que abastece 11 milhões de pessoas no Rio de Janeiro, seria um mero paliativo. A solução para a seca do sistema paulista demanda tempo. A proteção aos recursos naturais é responsabilidade tanto do governo local, que não fez a sua lição de casa, como da sociedade, que trata o precioso líquido como infinito.

É bom ressaltar que o desabastecimento vivido por São Paulo não aconteceu de um dia para o outro e não é difícil que se repita em outras cidades. Pois o roteiro que levou à falência do sistema é o mesmo que ameaça outros estados: crescimentos populacionais sem planejamento, ocupação irregular do solo no entorno dos rios e de mananciais, causando assoreamento e poluição, com dejetos de esgotos clandestinos em seus leitos. Chama a atenção também, na cota da administração pública, o fato de que cerca de 40% da água captada e tratada no Brasil se perdem no meio do caminho até as torneiras. Isso por conta da falta de manutenção de redes, gestão adequada do recurso e de furtos nas ligações clandestinas.

Quanto à população, é preciso que haja conscientização para mudança da cultura da abundância e do desperdício. O primeiro passo está no incentivo cada vez maior de comportamentos simples, como tomar banhos mais rápidos e não lavar carros e calçadas com mangueiras. Jogar qualquer tipo de lixo em córregos ou rios é outra prática abominável que deve ser banida.

Para que o problema não se repita, é preciso que os políticos deixem de lado a teoria do discurso fácil e bonito da sustentabilidade para praticá-la de fato, priorizando as questões ambientais. Gestos generosos, como transferência d'água do Rio para São Paulo, são apreciáveis, mas não bastam. É preciso ir bem mais fundo, com ações que demandam tempo, vultosos investimentos e a coparticipação de governos e população na preservação do meio.

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