Rio - O senador Bob Kennedy, em 1968, criticando o PIB, afirmou que ele “mede tudo, exceto aquilo que faz a vida melhor”. Dilma Rousseff disse que “uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para suas crianças e adolescentes”, e não pela atividade econômica. Os dois teoremas desconstroem os argumentos dos analistas políticos e dos candidatos da oposição, que estão centrando as críticas ao governo em função do desempenho do crescimento do produto da economia (PIB) sem considerar os avanços e conquistas sociais no país nos últimos 12 anos.
Traduzir temas complexos é o objetivo mais nobre dos analistas políticos quando se lança mão de repertório de informações socioeconômicas sobre as quais se busca extrair interpretações — sem dispensar a neutralidade científica e partidária para não induzir o eleitor a tomar decisão equivocada na hora de votar.
O PIB é um indicador absoluto da economia, com pouca influência para sensibilizar o eleitor na decisão do voto. Quando deposita o voto na urna, o eleitor acredita que sua escolha resgata horizontes de um amanhã melhor. As atuais análises sobre o país são catastróficas comparando com as nações europeias, onde a taxa de desemprego na faixa etária entre os jovens de 15 a 24 anos chega a 23% — na Espanha, 53,% e na Itália a 42%.
Michael Porter, da Universidade Harvard, publicou o Índice de Progresso Social, contemplando 52 variáveis para medir os avanços sociais e econômicos dos países, mas desconsiderou o peso do PIB dentro do modelo para explicar desenvolvimento. Destacou a Educação e os programas de resgate social. Já a OCDE divulgou o Índice para uma Vida Melhor, com chamada: “Há mais vida para além dos números frios das estatísticas do PIB”. São 11 indicadores que abrangem a habitação; emprego dos jovens, a educação para crianças e consciência ecológica.
A FGV, no estudo sobre 50 Anos da Economia Brasileira, do economista Marcelo Neri, traduz retrato fiel dos avanços sociais. Destacam-se: a queda da concentração de renda, o crescimento de pessoas na classe média e a inclusão de 35 milhões de pobres que entraram no mercado consumidor. Podem ser agregadas ao estudo de Marcelo a taxa de desemprego de 6% no país nos últimos 12 anos e a redução da taxa de juros da economia (Selic), que no governo de Dilma é a metade (10%) comparada com a da época de FHC. E por aí vai...
Portanto, estes indicadores sociais comprovam a ascensão das classes D e E dentro da pirâmide social, mas não explicam as perdas econômicas da classe média (C), pois a taxa de investimento da economia (18%) ainda é baixa para sustentar crescimento que beneficie todos neste segmento social. Insatisfeitos, aplaudem Maluf e vaiam uma chefe de Estado, eleita com 55,6 milhões de votos (52%), no Itaquerão. Neste contexto, o modelo político se esgota, e os analistas e a oposição partem para o debate faccioso na pauta do economês. Mesmo assim, o Ibope aponta Dilma reeleita com 39% das intenções de voto e 43% na reta final.
Wilson Diniz é economista e analista político