Rio - Ando escrevendo tanto sobre Copa do Mundo que, na foto da coluna, uma moldura de figurinha cairia bem.

Sinceramente, não se fala em outra coisa. Até na intimidade com a manicure.
Desnecessário entender o que tanto grita o pinguço no empate em 0 a 0 de Irã e Nigéria. Pior, o gaiato sabe de cor a escalação dos muçulmanos barbudos. Com a dicção de dialeto árabe aposta que “Ansarifard é melhor que Eto’o”.
O porteiro instala uma TV no cubículo do saguão, discorda do síndico, pendura bandeiras e rabiolas nas cores brasileiras, e passa o dia soprando uma vuvuzela pela entrada social.
A calçada disputada por argentinos, uruguaios, colombianos e chilenos, me faz recordar os afinados agudos do Ney Matogrosso:
— Deus salve a América do Sul! Desperta, América do Sul!
O táxi cruza o elevado da Sapucaí. De cima, encontro os trucks estacionados no Terreirão do Samba. João da Baiana, o ás de “Batuque na Cozinha”, agora faz vigília na Praça Onze pros aventureiros hermanos, estradeiros do futebol. É a versão urbana dessa dupla, bola e pandeiro.
Penso nas pelejas. Todos sabem, samba-enredo, só ganha um.
O Brasil joga amanhã.
Não consigo marcar um parágrafo com sobriedade. Os “Vermelhos de Neruda” se tropeçam na Lapa feito os zumbis dos filmes de suspense. Tenho a confiança de um torcedor do Madureira — “tudo pode acontecer”.
O telão, mesmo em alta definição, mostra o gol de Neymar. Eu, cego de emoção, aposto que o artilheiro foi o David Luiz. Não há lucidez que vença o sonho de vencer uma Copa em casa.
Vinicius de Moraes, o poeta de patriazinha e outros carinhosos diminutivos, ensina que o amor seja infinito enquanto dure.
Repito o verso feito um mantra nesse namoro com a Seleção. Receio o vazio de não ter o dia seguinte, a despedida sofrida.
“Tô” pronto pra tudo. Inclusive pra ressaca da vitória!