Por bferreira

Rio - Uma anedota que já nasceu sem graça e cercada de óbvios. Era um torneio entre arqueiros.
Quatro países disputam o alvo final.

O primeiro gringo, com flechas douradas e ponta de cristal líquido, crava na espiral, a um centímetro do alvo.

O segundo, de armadura eletrônica e braço biônico, acerta a 8 milímetros, próximos, enquanto o terceiro, igualmente preparado, diminui mais a distância do objetivo principal.

Como em toda piada, chega o brasileiro.

O hábito de deixar pra em cima da hora fez o competidor improvisar uma flecha com o espeto de um churrasquinho de gato comprado no viaduto de Cascadura.

Sete vidas, o felino também cedeu o bigode pra ajustar a tensão no arco de um berimbau.

Curvo, disparou o dardo bem no alvo. No alvo errado, distante, a mosca na parede do bar da esquina.

Nada cai do céu, só chuva e cusparada de egoísta.

A sorte bateu em outra porta.

O frio permanece, sem as Casas Pernambucanas.

Lembrei do sol e da peneira.

Quem escolhe o samba é a escola. Se no desfile, a ala emudecer, não foi o vento, não foi a harmonia.

A paixão também é cega. É a teimosia do desejo. Quando machuca, é dor assumida. Dor íntima.

Quando se transforma em fanatismo, religião, é a enorme onda de um tsunami.

Com o futebol, o Brasil inventou o estrondo do silêncio. Um remake a cores nas quatro linhas da bola. Na legenda, frustração. Roteiro de tragédias, ficamos outra vez descalços na grama seca dessa pátria de chuteiras.

Meu toca-discos toma as dores do meu coração. De Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, ouço acordes: “Tire o teu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor”. Toca Bide e Marçal:

“Agora é cinza. Tudo acabado e nada mais”.

Choro cantando esse hino da música brasileira, enfileirado num pesadelo de olhos abertos.

Acordei e, feito Lampedusa, nada mudou.

É verdade. Perdemos a Copa.

O passado, grita:

— Barbosa, cadê você? Me desculpe.


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