Por bferreira

Rio - Eu queria morar num país que se enfeitasse para as eleições. Primeiro porque adoro enfeites na vida, segundo porque, como já provamos para os radicais, se enfeitar e torcer pela Copa do Mundo (ou por baile de debutantes, ou réveillon ou escola de samba) não significa que sejamos menos politizados que eles, tais decorações reforçariam um patriotismo que precisa ser relembrado e resgatado a cada temporada. Também queria aquela chuva de papel picado dourado caindo sobre um candidato bacanérrimo que ganhasse o pleito, e em vez da taça da Fifa, esta criatura levantaria uma urna dourada, sob os gritos da multidão, talvez na Quinta da Boa Vista, provocando o mesmo arrepio e comoção que o de domingo no Maracanã.

Precisamos demais nos emocionar com a política, que se é suja é porque votamos mal. Queria que tudo desse certo para nós nas eleições próximas. Que não ficássemos constrangidos sobre ter vergonha de como foram feitos os preparativos, e agora que tudo correu superbem, temos ainda que saber quem desabou o viaduto em Minas. Alegria cívica, pode parecer fora de moda mas eu quero tê-la, sem que isto me torne morador de um país sisudo ou de feroz quebra-quebra. Não quero escolher entre ter consciência política ou ser cidadão de um país luminoso, enfeitado.

Pois é. O triunfo brasileiro é de tal monta que os alemães, marcados pela intolerância do nazismo, se entregaram de corpo e alma aos esquecidos índios pataxós, dançaram como eles e mostraram ao Brasil que competência não tem nada a ver com se sentir melhor que os outros. Se hospedaram nas terras cabrálias e redescobriram o Brasil, porque suas almas abertas e sedentas de vida mais leve foram invadidas pela beleza da gente simplérrima e sofisticadíssima do sul da Bahia. Sem saber, eles prestavam tributo ao índio Galdino, queimado numa praça em Brasília por uns nazistinhas brasileiros.

Viva a Copa, viva toda festa enfeitada que nos coloque bem na fita internacional, e quanto ao resto, o de dentro, nós, o Brasil, a Nação, esta nós vamos ter que melhorar com as urnas, isto é de nossa responsabilidade e nós vamos ter que dar conta. Se podemos fazer o superevento com brilhantismo de povo educado, acolhedor, temos que apresentar esta mesma competência no voto. Somos excelente povo anfitrião e temos que ser magníficos povo-eleição. E agora temos certeza de que isto não passa por negar a realização do grande evento aqui no país. Isto passa pela necessidade de melhores gestores públicos.

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