Por thiago.antunes

Rio - Não é preciso ser um observador atento da política nacional para perceber que ela é feita basicamente por brancos. Diferentes pesquisas indicam que a quantidade de negros no Congresso Nacional nunca ultrapassou a casa dos 10%. Vale notar que isso ocorre em uma sociedade como a brasileira, que se enxergou durante décadas como uma “democracia racial” e na qual metade da população se diz preta ou parda.

O Rio de Janeiro ocupa uma posição contraditória nesse aspecto. De um lado, vários parlamentares negros de renome nacional foram eleitos aqui: Abdias do Nascimento, Nelson Carneiro, Benedita da Silva, Édson Santos etc. Do outro lado, porém, a presença do negro na política local não é muito diferente da situação nacional. Os dados de uma pesquisa feita por mim indicam que, em 2012, apenas 9,8% dos vereadores eleitos eram pretos ou pardos. Por que isso acontece em uma cidade com metade da população composta por pretos e pardos?

Em primeiro lugar, podemos supor que poucos negros se candidatam nas eleições locais. Isso é plausível, já que a maior parte dessa população se encontra nas classes sociais mais pobres e, logo, possui menos oportunidades de ascensão política. No entanto, tal hipótese não é confirmada pelos dados. Em 2012, os pretos e pardos somaram 38% das candidaturas a vereador, percentual próximo à proporção desse grupo na cidade no período (49%).

Em segundo lugar, é possível conjecturar que existe uma preferência do eleitorado por candidatos brancos. Em uma sociedade como a nossa, que relega aos negros as profissões mais subalternas, é de se esperar que os eleitores prefiram, ainda que inconscientemente, políticos brancos. Contudo, esta hipótese não tem sido confirmada pelas pesquisas que correlacionam intenções de voto e a cor dos candidatos.

A ausência do negro da política se deve a outro fator: o espaço restrito que ele tem nos partidos grandes e competitivos. Nas eleições cariocas de 2012, cerca de metade das candidaturas lançadas por nanicos como PHS, PRTB, PRP, PMN, PPL etc. foi de pretos e pardos. Enquanto isso, o maior partido nacional e local, o PMDB, contou com apenas 19% de pretos e pardos em sua lista de candidatos. Dentre os candidatos lançados por legendas importantes como DEM, PV e PSDB, cerca de 75% era branca.

A ausência do negro na política não pode ser atribuída nem a pouca oferta de candidatos nem a um viés racial na demanda dos eleitores. São as estruturas partidárias mais fortes que se fecham aos negros, em grande medida porque dão mais espaço a elites políticas tradicionais, compostas basicamente por brancos.

Luiz Augusto Campos é sociólogo, professor do IESP/UERJ e da UNIRIO

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