Por bferreira

Rio - O implacável calendário eleitoral não dá espaço para lutos muito demorados. Até a semana que vem o PSB e os partidos que com os socialistas compõem aliança deverão indicar o substituto de Eduardo Campos, cuja brilhante e promissora carreira foi interrompida no mais trágico acidente da história política recente. É um quadro de dramaticidade sem precedentes: em parcos dez dias, e em meio ao trauma da queda do avião e à dor do enterro, é necessário redesenhar a coligação e chegar a um consenso sobre quem correrá ao Planalto. Não é uma decisão fácil, uma vez que chapas à Presidência são costuradas com meses de antecedência e raramente têm plano B.

Seria positivo que a terceira via tivesse um nome forte para o pleito de outubro, que relativizasse a extremada e até irracional polarização entre petistas e tucanos. Pode ser ruim para a democracia o fortalecimento do maniqueísmo que contaminou esse embate. No início do mês, este espaço alertou para a crescente animosidade entre os dois grupos, cada vez mais propensa a xingamentos e caminhos sem volta. Sem um terceiro nome para equilibrar essas forças, o ringue seria ainda mais escancarado.

A tendência natural é Marina Silva herdar a candidatura, pois ela tem um admirável lastro eleitoral; contudo, a morte de Campos enfraquece consideravelmente a chapa. É possível dizer que a coligação, do modo como foi composta — um completando o outro, numa curiosa harmonia entre ideologias que em alguns pontos eram quase antagônicas —, é insubstituível. É difícil encontrar alguém da envergadura do ex-governador, mas é possível e desejável chegar a um nome que sustente as plataformas do socialista — e sobretudo mantenha a pluralidade, a qualidade e o respeito do diálogo. O prazo é exíguo, o moral está abalado, é custoso manter a esperança e tudo converge para decisões precipitadas. É necessário ter força e serenidade para pensar à exaustão o melhor para o Brasil, até como homenagem ao legado de Eduardo Campos.

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