Por adriano.araujo

Rio - Toda a República compareceu ontem à cerimônia fúnebre do ex-governador Eduardo Campos, o neto de Miguel Arraes que por força do destino perdeu a vida em plena campanha para a Presidência. Sob forte emoção, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, rezou a missa de corpo presente acompanhada por milhares de pessoas, solidárias à dor da viúva, dona Renata, e de seus filhos. Com a tragédia, a sociedade brasileira, que tanto tem protestado contra a classe política, aprendeu que existem homens públicos dignos e decentes. Pessoas que não fazem da política uma gazua para alcançar objetivos gananciosos e mesquinhos. Eduardo Campos pertencia a uma estirpe diferente. A exemplo de seu avô, ele pensava no futuro do país. E deixará para sempre a frase impressa na camiseta vestida por seus parentes e amigos: “Não vamos desistir do Brasil”.

A morte de Eduardo Campos ressalta o lado nobre da atividade política. Infelizmente, porém, a visão paroquial de uns poucos também se fez presente. Foi espantosa a reação do vice-presidente do PSB Roberto Amaral (promovido após a tragédia) e, mais ainda, a do presidente do partido em São Paulo, Márcio França, candidato a vice na chapa do tucano Geraldo Alckmin. Desde o primeiro momento, ambos só tinham olhos para os interesses partidários. Embora estivesse claro para todos que Marina Silva, a vice, deveria ser alçada a titular (assim seria se ela e Eduardo tivessem sido eleitos), Roberto Amaral, de notórias ligações com o PT, veio a público alardear que o PSB não tinha um candidato natural para a cabeça da chapa. Qualquer decisão só seria tomada na quarta-feira, após o primeiro programa na TV. Márcio França falou no mesmo tom e ainda insiste em exibir sua total falta de sensibilidade: “Antes ela (Marina) criou crédito, pois era a mais famosa. Neste instante, criou o débito. Nós é que iremos acolhê-la para ser candidata a presidente. Agora ela se torna nossa candidata para dirigir o país”.

"Mulher resistente, que venceu a pobreza e a doença, ela entra na corrida sucessória com força. Marina é maior do que o PSB”.Murillo Constantino / Agência O Dia

Na verdade, se dependesse da vontade de Amaral e França, Marina sequer estaria na chapa. Entretanto, como ela mesma diz: “Existe uma providência divina formada em relação a mim, à Renata, ao Miguel (filho de Eduardo), mistérios que nós não compreendemos, nem em relação aos que ficaram e nem em relação aos que foram. São mistérios”. Mesmo os céticos, hão de concordar que a candidatura de Marina Silva à Presidência da República nasce do imponderável. O projeto fora adiado quando o TSE não aprovou a criação do seu partido, a Rede. Para não ficar totalmente alijada, ela buscou abrigo no PSB, surpreendendo até mesmos seus assessores. Foi acolhida de braços abertos por Eduardo Campos e soube conformar-se com o segundo plano.

Agora, porém, Marina Silva está de volta ao centro do palco. Mulher resistente, que venceu a pobreza e a doença, entra na corrida sucessória com força. Pesquisas pelo telefone, feitas por PT e PSDB, indicam que Marina já deve aparecer no nível de intenção de votos de Aécio Neves. O que é certeza de segundo turno nas eleições. Há quem diga que, passada a comoção, ela vai cair, desgastada pelo fogo amigo do PSB. Esses analistas se esquecem que Marina, com um partido nanico, conquistou 20 milhões de votos em 2010. Apesar de sua modéstia quase franciscana, Marina Silva é maior do que o PSB.

Você pode gostar