Rio - A propaganda partidária obrigatória no rádio e na televisão já está no ar, infelizmente sem grandes novidades de forma e estilo. Nos cargos majoritários, enxergam-se nos candidatos a pasteurização e a maquiagem de sempre; na corrida para o Legislativo, no cipoal de nomes, caras, números e frases feitas, sobram os velhos personagens pitorescos, de grande apelo popular, que estão ali justamente para chamar a atenção do eleitorado.
Dificilmente terão votação inexpressiva. A questão vai além da capacidade dessa gente de fazer um bom trabalho caso eleita. Para o projeto de poder das legendas, pouco importa a produtividade nos parlamentos. O que importa é o desempenho nas urnas.
Por trás dessa estratégia está o quociente eleitoral, mecanismo que, em tese, garantiria a proporcionalidade dos partidos nas casas legislativas, assegurando a participação equilibrada das legendas mais votadas. Por isso ocorrem com frequência casos de candidatos muito bem votados, mas que não conseguiram vaga. Como eleição no Brasil virou uma indústria, com teorias modernas de comportamento do consumidor (no caso, eleitor) e de marketing, mal não faria olhar com lupa certos postulantes — estrelas, atletas, personalidades.
O grande apelo desses ‘puxadores’ leva a muitos votos, que levam a mais vagas para o partido, que incute uma ‘armadilha’. O eleitorado não necessariamente está ciente da possibilidade de alguém com poucos votos entrar no lugar de outro com talvez o dobro. A chance de ‘chuchus’ se elegerem nesse sistema muito bem explorado é bastante alta.
Desarmar esse gatilho exige mudanças profundas, muitas previstas nas propostas de reforma política, e incluem debates sobre voto distrital e em lista. Parece não haver interesse em levá-los adiante, apesar de o Brasil necessitar dessa discussão. O jeito mais fácil é saber exatamente em quem votar, com o cuidado de checar a chapa e desconfiar dos mais carismáticos. Dá trabalho, mas, nos quatro anos da legislatura, acabará compensando e valerá a pena.