Por bferreira

Rio - É versão corrente que estas eleições são as mais surpreendentes desde 1989. No entanto, observando o resultado, percebe-se sua previsibilidade. Temos uma ‘final’ PT x PSDB desde 1994, uma proposta à esquerda e outra à direita desde 1989, e desde então a proposta à esquerda se articula no PT. Consideremos o primeiro turno de 2010: Dilma seguida de Serra e Marina. A mesma configuração atual, com quase os mesmos nomes: a candidata progressista em primeiro, o conservador em segundo e a que propõe uma ‘terceira via’ em terceiro. Comparando o primeiro turno de 2010 com o de 2014, as porcentagens de cada um foram parecidas, com apenas uma importante diferença: a candidata progressista atingiu patamar menor, 47% em 2010, 41% agora.

O que poderia explicar tal queda? Primeiramente fatores conjunturais, alguns deles derivados de erros do governo e do PT, como a dificuldade em perceber que as políticas econômicas dos últimos anos estavam se esgotando, o que poderia ter antecipado ajustes. Ou de responder às pesadas críticas impetradas por uma mídia nada imparcial — sendo urgente debater a democratização da mídia e a necessidade de as esquerdas assumirem a luta pela hegemonia.

Há, no entanto, um elemento estrutural que parece estar se apresentando: o avanço da aversão à política e de posições conservadoras na sociedade. Talvez ambos sejam variações do mesmo tema, ou ao menos produzam o mesmo resultado. Manifestam-se na histeria anticorrupção, na violência das redes sociais, na eleição de um Congresso mais conservador e no aumento das abstenções e votos nulos e brancos.

Explicações sociológicas para isso seriam muitas. Mas vale refletir sobre as novas camadas médias surgidas graças às políticas sociais e de infraestrutura do governo, que vêm definindo sua identidade através do consumo, e podem estar se descolando das bases governistas e se associando às velhas camadas médias antigovernistas.

Resta saber se essas tendências terão força para derrotar a candidatura progressista no dia 26, no que se concluirá nosso já iniciado processo de ‘restauração’ (sendo que nem chegamos a ter ‘revolução’).

Se não for no fim deste mês, o farão em 2018 se o governo e o PT não reagirem e fizerem uma profunda reflexão. Após 12 anos na administração federal e longo processo de moderação, é lícito duvidar de sua capacidade de renovação.

Fabricio Pereira da Silva é professor de Ciência Política da Unirio

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