Por felipe.martins

Rio - Existe muito mais em jogo neste segundo turno das eleições presidenciais de 26 de outubro do que podemos imaginar. Para além da escolha dos rumos do país, os brasileiros indicarão pistas relevantes para o futuro da América Latina. Nesse contexto, a polarização ideológica e estrutural entre PT e PSDB reflete não só o cenário das últimas décadas no Brasil, mas da região como um todo.

O fim da Guerra Fria e a propalada “derrota do socialismo” levaram a uma onda conservadora no continente nos anos 1990, capitaneada por governos de centro-direita que tinham como principal objetivo realizar amplas reformas, reduzindo o tamanho do Estado e implementando o modelo neoliberal. No Brasil, tais reformas foram ensaiadas pelo governo interrompido de Collor, mas levadas a cabo principalmente na administração de Fernando Henrique Cardoso e do PSDB.

Já nos anos 2000, a eleição e a reeleição de Lula no Brasil, bem como a de outros presidentes, como Néstor Kirchner na Argentina, Hugo Chávez na Venezuela e Rafael Correa no Equador, demonstraram a emergência de governos progressistas de centro-esquerda, no que ficou conhecido como ‘onda rosa’. Esse movimento simbolizou o descontentamento dos eleitores latino-americanos com os rumos tomados pelos presidentes na década anterior.

Já na atual década percebemos que existe um ‘território em disputa’ na América Latina. Se a esquerda ainda é majoritária na região, como demonstraram o retorno de Michelle Bachelet ao poder no Chile e a recente reeleição de Evo Morales na Bolívia, a direita conseguiu importantes vitórias, como a eleição de Santos na Colômbia e de Cartes no Paraguai.

Voltando para o caso brasileiro, a atual eleição presidencial possui uma grande importância no cenário político latino-americano, pois pode servir como ‘base de orientação’ para as próximas disputas na região, como aconteceu após a eleição de Lula em 2002. De um lado, temos o projeto de continuidade à esquerda do centro, representado pelo PT e sua ênfase na questão social, em um modelo que se aproxima cada vez mais da social-democracia europeia.

De outro, temos um programa social-liberal que se inclina cada vez mais para o conservadorismo político e econômico, representado pelo PSDB e pelas recentes adesões à candidatura de Aécio Neves de nomes como Pastor Everaldo e Silas Malafaia. Trata-se, portanto, de mais um cálculo necessário ao eleitor brasileiro para decidir seu voto no próximo dia 26, sabendo que o destino da região também está em suas mãos.

André Coelho é doutor em Ciência Política e professor da Unirio

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