Por felipe.martins

Rio - Na quarta-feira passada, Dia do Professor e do Consumo Consciente, fui convidado para ministrar uma palestra, no Jardim Botânico, sobre consumismo infantil. A proposta era conversar com educadores e visitantes da instituição sobre as relações que hoje se estabelecem entre criança, mídia e consumo. Fiquei surpreso: na plateia havia muito mais crianças e jovens do que adultos. Apresentei breve processo histórico do lugar do consumo na sociedade e, em seguida, a inserção da infância neste ‘universo’. Infância como criança, cidadã e consumidora. Saldo positivo.

Mas o que mais me chamou a atenção foi a presença de uma mãe. Antes de começar a palestra, ela se dirigiu a mim, se apresentou e disse que estava ansiosa pelo debate. Seu filho, com uns 6, 7 ou 8 anos, estava meio que aborrecido com ela porque não havia ganhado o novo celular que pedira. Fiz a palestra. Ao fim, reparei que ela estava acompanhada também de outra filha, mais ou menos da mesma idade do menino.

Então, a mãe pediu a palavra. Contou para os presentes que havia ligado para o seu chefe, pela manhã, avisando que não poderia trabalhar, já que seus filhos, por conta do Dia do Professor, não teriam aula, e ela, consequentemente, não teria com quem deixá-los. E não parou por aí: completou dizendo que ia aproveitar a situação para assistir, com seus filhos, a uma palestra sobre consumismo infantil, já que o tema era importante para sua família.

Fiquei encantando com a postura da mãe, moradora do Méier. Em tempos em que verificamos certa omissão de pais e ou responsáveis diante das questões que envolvem limites e responsabilidades de crianças e adolescentes, mais especificamente, de seus filhos, a atuação desta mãe foi/é dez. Pena que esta preocupação/encaminhamento não é usual, comum. Pelo contrário, é desvio de padrão.

Muitas vezes, pais e responsáveis acham que tudo é normal, vale e pode ser feito pelos seus filhos. Que os pedidos, exigências e reivindicações das crianças e jovens devem ser atendidos a qualquer preço, funcionando como uma forma compensatória de atenuar a falta de presença, carinho e ou atenção — que, aí sim, deveriam ser dados incondicionalmente. Não sei se o menino esqueceu o novo celular. Mas tenho certeza de que o diálogo sobre o consumo na casa dele existe e é cada vez mais legítimo. E mais do que isso: na casa dele há uma mãe, de fato, preocupada com o seu crescimento.

Marcus Tavares é professor e jornalista especializado em Midiaeducação

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