Por felipe.martins

Rio - Gustavo da Riotur e Elmo e Edson da Cidade do Samba me puxaram e disseram: “Olha os teus queijos aqui!” 2014, na Portela, no meio da multidão, duas lindas mulatas de biquínis subiam acima das cabeças, dançando em plataformas de ferro e madeira. Rebobina para 1997, eu ensaiando vedetes para exibições antes da cantoria do samba enredo na quadra da União da Ilha. Este foi meu maior legado para o mundo do samba, fazê-los entender que era preciso um pouco de frescura e glamour naquele terreno “duro” onde só tinha Bateria e Cantor, maravilhosos, culturalmente relevantes; e sambistas, divinos, todos dignos de grande respeitabilidade e reconhecimento.

Mas, vindo do teatro, para além dos sambas, eu queria o show. E eu tinha a certeza de que buscando no meio daquela comunidade insulana, eu descobriria as vedetes. Dito e feito, foi uma era de esplendor de bilheteria para os carnavais de 1998 e 1999. Preciso dizer que atraí com minha veadagem cênica o público gay, a ponto do presidente Peixinho dizer, apavorado: “Mas tem dois homens se beijando ali naquela parede!”

Baixei o microfone e disse: “Entuba, eles gastam, não brigam e são animadíssimos, como eu, aliás”. Eram outros tempos, quando o machista e conservador mundo do Samba achava que só precisava de luz colorida, direção de shows, figurinos especiais, cenários que subiam e desciam na Sapucaí. Eu punha as mulheres pássaros voando no teto da quadra erguidas por talhas, a 8 metros de altura, para desespero da Diretoria de Harmonia e Carnaval, que não queria ter mais aquele trabalho, pois já tinham preocupações suficientes. E os embates, às vezes gritados, ofensivos, eram frequentes.

Na final da Unidos da Tijuca, o Diretor me puxou: “Vamos voltar a nos falar? Agora você entende por que eu era contra, por que eu fazia tudo aquilo?” Sem supor, fiz com a cabeça que não. Eu acho que ele sinalizava para “eu só cumpri ordens”. Sinto muito, quem só obedece não faz parte da minha praia, rebeldia é bom, desde que não apequene o sambista. Nisto o Presidente Horta me puxa para o lado de um jornalista, e diz: “Foi Milton quem começou tudo isto!”. Estávamos diante de um show competente, ágil, iluminado, com roupas piscantes, tudo profissionalíssimo.

Fácil não foi, paguei o preço e sou orgulhoso e espero que a História me faça jus. Valeu toda porradaria, porque cada fechação que uma cena artística causar na plateia da quadra, um pouco de meu esforço e muito do meu desvario estarão lá, para me representar, e provar que veadagem é bacana ao enfeitar o tenso mundo.

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