Por felipe.martins

Rio - O pensador italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), ao escrever o livro ‘O Príncipe’, não imaginava que séculos depois sua obra cairia na boca do povo. Qualquer um sabe os ensinamentos de que o objetivo deve ser alcançado a qualquer preço, “custe o que custar”, e de que “os fins justificam os meios”, maquiando propósitos para a conquista do poder.

Maquiavel pregava que, em época de crise para manutenção do poder, era preciso ter um exército forte e estruturado para dominar o território. Destacava que o príncipe, para não ser odiado, deveria ter qualidades como fé e religião, fazer alianças necessárias e preferir parecer ter qualidades a possuí-las de fato — como se tivesse aparência de um “cordeiro camuflando um lobo”.

Com esses ensinamentos, o deputado Garotinho e o senador Crivella, representante do seu tio, Bispo Macedo, dono da Record, tornaram-se PhDs em colocar em prática política os conceitos do pensador italiano para atingir o poder a qualquer preço, fazendo acordos escondidos inimagináveis para os padrões e ensinamentos políticos comparados com os daquela época.

Em Campos, na residência da família Garotinho, selaram acordo sem ter conhecimento de que Maquiavel postulava que “o verdadeiro modo de chegar ao paraíso é aprender o caminho do inferno, para evitá-lo”. O deputado, movido pelo ódio, caiu nas armadilhas do Crivella, pastor de fala mansa e convincente e de aparência de cordeiro, escondendo o projeto político idealizado por Macedo com intuito de dominar a máquina pública do estado para lotear repartições com discípulos-pastores e fiéis do império da Universal.

Garotinho, sem mandato, diante dos acordos selados, é ‘vítima espiritual’ das astúcias e da crueldade de Crivella. Corre risco de continuar caminhando na estrada do inferno político, percorrendo os corredores dos Tribunais de Justiça para se defender, além de perder o domínio da prefeitura campista nas eleições de 2016.

Garotinho, sem representatividade no exercício parlamentar na Câmara Federal, entra em processo agonizante de morte política nos próximos dois anos. Viverá no ostracismo, enclausurado como secretário de Governo da prefeita Rosinha, interpretando personagem coadjuvante, embora exercendo de fato o comando do cargo de prefeito para sua sobrevivência.

Em ambiente de turbulência e do maquiavelismo de seus adversários, Garotinho acabou de ser denunciado pelo STF, com possibilidade de ser condenado, enquanto seu ‘aliado’, o bispo-senador Marcelo Crivella, continuará com imunidade parlamentar incólume de acusações.

O economista e governador Pezão, em debate acirrado no afã dos tiroteios de Garotinho e Crivella, utilizou técnica de marketing político criativa, de fundo maquiavélico, ao rotular o acordo entre seus inimigos de “Crivellinho”, como mote da aliança de campanha para alertar os riscos que o eleitorado corre se optar em depositar o voto num candidato comandado pelo Bispo Macedo como gestor das finanças públicas do estado e das verbas de publicidade. Será que Maquiavel não morreu em 1527 e o eleitorado do Rio não está vivíssimo?

Wilson Diniz é economista e analista político

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