Por bferreira

Rio - Domingo será o segundo turno nas eleições. Na disputa presidencial há dois projetos profundamente diferentes. O de oposição ziguezagueia entre ideias a cada debate, ora afirmando que será tudo de forma diferente do que foi feito até agora, ora dizendo que os projetos do atual governo serão mantidos, com competência e qualidade administrativa. No final parece que são dois candidatos em um só.

Mas vamos à questão que nos motiva. O voto nulo é um equívoco por algumas razões: a) separa da maioria da população e aprofunda o individualismo; b) desloca da realidade, sem necessidade de aproximação ao que foi acumulado em uma sociedade específica; c) garante uma zona de conforto; d) confunde a diferença de projetos com as diferentes estéticas apresentadas em período eleitoral; e) não compreende o voto como conquista. O voto é uma conquista, que foi se ampliando para setores da sociedade civil. Mulheres, negros, pobres, presos provisórios, voto facultativo entre 16 e 18, tudo conquista. Com isso, é claro, houve uma mudança na esfera do poder.

Querer mais democracia é um grande desafio e está na ordem do dia. Mas não como contraponto às conquistas importantes de nossa história. O voto nulo faz isso, despreza e coloca a perder uma conquista importante. Não votar traz uma diferença objetiva, pois o cidadão fica sem seus direitos, a não ser que pague uma pequena quantia ou antes justifique.

Não é uma conquista não ter papéis que já possam vir escrito por outros e entrar sozinho na cabine sem ninguém observar a votação? Cada cidadão vota como quiser e ninguém saberá o voto! E o voto nulo, diante dessa conquista, é uma zona de conforto ilimitada, para quem pode se achar acima das consequências que o voto para trazer para a sociedade.

É importante registrar: todos os partidos são instrumentos para disputa do Estado, de acordo com seu projeto, claro. Não existe partido que não represente grupos sociais, sejam quais forem. E nesse processo, não se pode esquecer, nunca, que o voto nulo só ajuda quem está ganhando.

Não existe uma forma de dizer: “Não tenho nada a ver com isso tudo.” Não há quem possa lavar as mãos. Todo poder de Estado depende de disputas em curso na sociedade civil. O desafio sempre colocado, portanto, é ampliar cada vez mais o protagonismo das pessoas, na sociedade e frente ao poder político (o Estado). E essa ampliação precisa de mais conquistas, mais democracia, mais igualdade, mais controle social, mais humanidade.

Posicione-se e seja sujeito, para além de produto, do processo político que sua vida e da vida de milhões de brasileiros (os que sofrerão as consequências). E, nessa estrada, parece razoável buscar superar o individualismo, o egoísmo estrutural da sociedade de mercado. Assim segue um desafio: participe escolhendo um lado. Faça isso com a clareza de que sua decisão, seja qual for, contará no resultado final das eleições. Não vote contra você, não vote nulo!

Eduardo Alves é sociólogo e membro da direção do Observatório de Favelas

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