Rio - Se em 2002 “a esperança venceu o medo”, o que dobrará o ódio em 2014? A campanha à Presidência da República, que se encerra hoje depois de desgastantes três meses, ficará marcada pela gritaria, pelas animosidades, pela intransigência e sobretudo pelo radicalismo. Carregou-se nas tintas em ambos os lados, com acusações rasteiras, teorias estapafúrdias e muito desprezo ao oponente. O resultado das urnas, logo mais, fotografará um Brasil partido ao meio. Divisão que pode alimentar um sentimento tão devastador quanto a raiva: o rancor.
Uma nação rancorosa não é ingovernável, mas desse ressentimento brota uma perigosa paralisia — a mesma que nutriu os bate-bocas intransigentes e maniqueístas até a semana passada. Ali, cada lado da contenda fez esforços semiolímpicos para não apenas provar estar certo, mas também esgoelar que o contraponto, caso lograsse êxito, patrocinaria o Fim dos Tempos.
É evidente que o Brasil precisa superar rivalidades se quiser avançar. Raríssimas são as eleições por aclamação ou unanimidade, e todo governante — rezam as leis mais elementares da democracia — tem de olhar por quem lhe deu voto e por aqueles que o rejeitaram. E o vencedor desta noite dificilmente terá margem elástica sobre o oponente, o que torna o diálogo uma ferramenta imprescindível para os anos seguintes. Do contrário, o país mergulhará numa inércia onde as diferenças e os preconceitos se acirrarão.
Muito mais produtivo é utilizar essa energia toda em exigir mudanças a partir de 1º de janeiro — mais uma vez, cada metade entende como cataclísmica a vitória da rival. Insistir nesse derrotismo é guardar rancor. Melhor é praticar a pertinácia, prima mais nobre da teimosia, e fazer valer o peso da parcela dissonante da população. É hora de pôr as diferenças de lado e avançar. Em nada o Brasil ganhará se continuar a repelir-se.