Por bferreira

Rio - Três mil foram no início de novembro à Avenida Paulista exigir o impeachment de Dilma Rousseff, a presidente recém-eleita democraticamente pela maioria absoluta dos brasileiros. Petição online de natureza semelhante circulou semanas antes nas redes sociais. Se considerarmos que impeachment não se aplica a tirar do cargo governante de que não se gosta e sim a destituir presidente que cometer infração constitucional, concluiremos que aumentou o ímpeto golpista na direita.

Há semelhança com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade de 1964, que pedia a derrubada de João Goulart, o presidente mais à esquerda da história do Brasil até então. Agora, também pediam intervenção militar e repercutiam o delírio de que ainda vivemos sob a Guerra Fria e de que há uma ameaça comunista.

O ódio cresce, inflamado por colunistas e por âncoras de TV. Isso ficou claro na reação preconceituosa contra os nordestinos, proporcionalmente os que mais votaram em Dilma Rousseff, e contra seus eleitores em geral, chamados de “despreparados” por Fernando Henrique Cardoso e de “ladrões” por uma legião de antipetistas, incluindo esportistas e outras celebridades.

Há uma fascistização dos setores conservadores, inconformados com as mudanças sociais e a sequência de governos do PT. A defesa do militarismo e a mistura de conservadorismo com nacionalismo, que aparece em gritos de “o Brasil é verde-amarelo e não vermelho”, lembram tanto a ditadura militar iniciada em 1964 como os movimentos fascistas. Cresce a xenofobia, na obsessão contra Cuba e a Venezuela e nas vaias furiosas aos hinos nacionais dos adversários na Copa do Mundo.

O ódio descamba facilmente para a violência. Tentaram queimar a bandeira de um casal de eleitores de Dilma em Ipanema. Em Belo Horizonte, fizeram ‘corredor polonês’ atacando carros com adesivos da candidata. Há registro de violência sexual de três eleitores de Aécio Neves contra uma adolescente que discutia política em Botafogo, e de automóvel apedrejado em Brasília com uma família dentro por deixar o adesivo de Dilma no vidro.

Para a democracia se manter, toda a sociedade deve se comprometer com ela, aceitar o resultado das urnas e não recorrer a ações violentas para reverter as mudanças aprovadas pela maioria. A última aventura desse tipo no país resultou em duas décadas de direitos cerceados, mortes e tortura. É preciso cuidado, pois não estamos livres de repetir os erros do passado.

Guilherme Simões Reis é doutor em Ciência Política e professor da Unirio

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