Por felipe.martins

Rio - A violência de gênero é considerada um grave problema na Espanha. Assassinatos têm destaque amplo nos meios de comunicação e repercussão nacional. Quem vê com frequência a TV espanhola e não acompanha as estatísticas mundiais poderia jurar que o país é campeão nesta modalidade de crime. A realidade, entretanto, é bem diferente, em se tratando somente da Europa.

De acordo com pesquisa realizada pela Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA), a porcentagem de mulheres que disseram ter sido vítimas de violência física ou sexual é mais alta na Dinamarca (52%), seguida pela Finlândia (47%), Suécia (46%) e França (44%).

Na Espanha, o índice é de 22%. O estudo revelou também que 83% das entrevistadas espanholas declararam ter visto em algum momento campanhas contra a violência de gênero. A média na UE é de 50%. Isso faz com que na Espanha a percepção sobre a magnitude do problema seja superior a media europeia.

Vejamos, em linhas gerais, a realidade brasileira. O número de mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde, SUS, por conta da violência é o dobro do de homens, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com o ‘Mapa da Violência 2012: Homicídio de Mulheres no Brasil’, 4.465 mil mulheres foram mortas em 2010 (últimos dados gerais disponíveis). Esses números colocam o país em sétimo lugar entre 84 países. A Espanha está em 74º lugar. Por lá, aliás, em 2013, foram mortas 54 mulheres. Até outubro deste ano, haviam sido 42. Números recentes e facilmente acessáveis.

A visibilidade que se dá aos assassinatos ainda é pontual no Brasil. Fala-se em números, não em pessoas com nome, sobrenome e história de vida. São poucos os casos que ganham notoriedade. A violência contra a mulher é uma questão pública, que traz consequências para toda a sociedade. E a forma de lidar com o problema mostra, claramente, como ele é visto em um país.

Na Espanha, a sociedade tomou a decisão de dar ao tema a visibilidade considerada necessária para a mudança da mentalidade e a transformação do contexto. Considerando, é claro, a necessária resposta da Justiça.

Ana Paula Conde é jornalista, cientista política e professora

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