Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Só falta a criança sair do ventre com um tablet na mão! Jantando num restaurante de Nova Friburgo, contemplei entre um sushi e outro uma criança que, ainda com sua chupeta à boca, não desgrudava os olhos do tablet. Jogava, passava figuras, dominava o teclado e deslizava seus dedos pela tela. Recriminar? Nada disso. Seria o mesmo que castigar uma criança troglodita, vivendo em cavernas, lançando pedrinhas sobre um muro onde estava desenhado um bisonte. Seria impedir que uma criança no delta do Nilo, à época de Ramsés II, empilhasse pedras para construir uma pirâmide de brinquedo.
Os brinquedos acompanharam as suas épocas e as culturas envolvidas. Meu avô, por exemplo, pediu a um carpinteiro para fazer uma máquina de fiar, ainda em madeira. Deu-me este presente de Natal com um rolo de linha para que brincasse de fazer rédeas para os cavalos, um dos artesanatos que ele desenvolvia. Meu pai presenteou-me com um trenzinho de ferro, refletindo sua profissão de ferroviário.
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Meus filhos usaram brinquedos eletrônicos e, sem fazer curso em computadores, acabaram por aprender a manipulá-los porque o computador foi o ‘guru’ deles. As máquinas modernas querem que as crianças aprendam e os adultos também. Por mais que a escola conservadora tenha lutado contra o uso de computadores, eles entraram e dominaram o espaço.
Cabe aos professores, em primeiro lugar, vencer a resistência dentro da própria mente e passar a usar a ferramenta com precisão, descobrindo que o próprio tempo será aumentado, podendo ser aplicado em estudo e lazer.
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Estamos na era eletrônica. Ao mesmo tempo, temos de estar atentos que ler um livro é uma necessidade para expandir o vocabulário e que os audiolivros servem para informar, não para mostrar como a palavra ‘traição’ deve ser escrita. Basta lembrar que o jovem não leu o livro indicado pelo professor e informou à sua colega que ouvira tudo pelo audiobook. Na escola e na hora da prova teve de perguntar à colega como uma dada palavra era escrita.
Computadores são excelentes. Na verdade, eles emitem luz, enquanto o papel reflete luz. Assim, enquanto um cansa a visão, o outro a descansa. Além disso, cabe ao bom senso saber usar, para que as ferramentas não transformem os usuários em verdadeiros intratáveis e isolados do mundo, o que os prejudicará na vida.
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Hamilton Werneck é pedagogo e escritor