Por thiago.antunes
Rio - A crise internacional do petróleo, com o barril despencando para US$ 46, traz à tona o fenômeno da ‘doença holandesa’, que ocorreu nos anos 60 nos Países Baixos com a descoberta de gás natural. Como consequência do ‘boom’ das exportações, a entrada maciça de dólares no país sobrevalorizou o câmbio e desestimulou as vendas externas e a competitividade de produtos industrializados.
O fenômeno não encontra paralelo com o pré-sal brasileiro, pois nossa economia tem pauta diversificada de exportação em vários setores competitivos. No entanto, se os preços continuarem em queda (US$ 45 é o custo de capital da extração), os efeitos da crise serão devastadores para cidades que dependem dos royalties. No Estado do Rio, a previsão para este ano é de queda de receita de R$ 2,2 bilhões. Campos, Caxias e Macaé já apresentam sinais de fragilidade financeira crônica.
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Em Campos, a receita de R$ 2,4 bilhões em 2013 já tinha apresentado queda de 5%. Em 2014, a prefeita foi à Justiça para liberar R$ 250 milhões de venda futura de royalties pelo Banco do Brasil. A conjuntura dos próximos dois anos é de estrangulamento financeiro, desemprego e falências.
Para fotografar o quadro caótico destes indicadores, só é preciso simular a projeção do PIB sem a participação da renda do petróleo, que é exportada para empresas com sede fora da cidade. O PIB é fictício e está no mar. Recalculando-o, a renda per capita despenca, com IDH semelhante ao de municípios dos grotões do Nordeste.
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A proliferação da ‘doença holandesa’ em Campos pode ser diagnosticada quando observamos a formação do emprego. O comércio fica dependente das ações da prefeita em empregar um exército de jovens que não encontram vaga no mercado de trabalho. A doença é silenciosa e mata aos poucos, comprometendo o futuro de uma geração, dependente da empregabilidade do comércio com baixos salários e de ‘esmolas’ dos cofres públicos — que garantem a estes governantes a rotatividade no poder passando o comando político de marido para esposa e amigos.
A maldição do petróleo como doença crônica nestas cidades pode ser menos dolorosa se a população procurar outro médico nas eleições de 2016. A bula destes médicos da política oligárquica que se perpetua no poder não cura a doença. Ao contrário, mata, ludibriando a população mais pobre com passagem de ônibus a R$ 1...
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Wilson Diniz é economista e analista político
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