Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Há 30 anos, o Colégio Eleitoral criado por Ernesto Geisel se reuniu e elegeu Tancredo Neves presidente da República. Como vice, foi escolhido José Sarney, que havia deixado pouco tempo antes a Presidência do PDS, partido de apoio ao regime militar.
Os eleitores eram quase todos parlamentares, e apenas 26 dos quase 600 não votaram. O PT, partido hoje no poder, não votou e ainda expulsou três deputados que achavam que a eleição de Tancredo seria a consolidação da abertura democrática concebida pelo presidente Figueiredo e desejada por todos.
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Todos sabem das qualidades de Tancredo como político hábil, equilibrado, de bom senso, avesso a radicalismos. Sua presença nacional vinha de longe. Foi o último ministro da Justiça de Getúlio Vargas. No entanto, o que pouco aparece é que Tancredo tinha um oponente, então o deputado mais votado do Brasil, Paulo Maluf, ex-prefeito e ex-governador de São Paulo e que vencera, meses antes, a convenção do PDS contra o preferido do governo, ministro Mário Andreazza, nome associado a grandes obras de transportes, saneamento e habitação.
O papel de Maluf na redemocratização é pouco conhecido. Negou-se a renunciar à candidatura, previamente derrotado que estava, para gerar um impacto no processo. Esteve com Tancredo, em encontro reservado no Rio. Eram velhos amigos. Tancredo foi íntimo de seu cunhado Ricardo Jafet, presidente do Banco do Brasil na Era Vargas. Foi Jafet quem despertou em Maluf, empresário, nascido muito rico, o gosto pela política. E sua presença no Colégio Eleitoral confirmou o sentido democrático da disputa.
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Foram dignos, exemplares até, os 180 políticos que votaram no derrotado Paulo Maluf, quando Tancredo teve 480 votos. Não houve toma lá, dá cá. E Maluf teve votos de ilustres brasileiros, como o de Roberto Campos, então senador pelo Mato Grosso. Mas o destino não permitiu que Tancredo tomasse posse, o mandato foi cumprido por Sarney, que convocou a Constituinte.
Observando a lista dos eleitores, dos postulantes, verificamos que a qualidade era superior à de nossos dias. Maluf concorreu mais duas vezes, em pleito direto, e vem desempenhando, com dedicação, mandatos de deputado federal. Político controvertido e muito combativo, não é de atacar ninguém; prefere defender as obras que legou a São Paulo. Pena que a intolerância e a falta de hábito de aceitar as opiniões divergentes provoquem esta cortina de silêncio sobre alguns políticos, dos quais só se pode falar mal.
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Aristóteles Drummond é jornalista