Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - O fascínio europeu pela sexualidade tropical surgiu quando 50 tupinambás dançaram, com corpos pintados com urucum, à corte do rei Henrique II, da França, na Normandia, em 1550. Foi o pensador holandês Gaspar Barléu que refletiu sobre este interesse: “Não existe pecado do lado de baixo do Equador”.
Na miscigenação, o estupro era prática comum. Requisitados pela Coroa, ladrões, saqueadores, bêbados e assassinos — retirados das cadeias — podiam ‘usufruir’ os habitantes da colônia. Assim, constituíram famílias, baseadas no poder do ‘senhor’ e num sistema patriarcal.
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A escravidão foi marcada pelo estupro. Os ‘baguás’, negros reprodutores, robustos e obedientes, recebiam a ordem do senhor para ir ‘capinar’ junto com as escravas e assim cumprir a missão: engravidá-las. Os filhos destes estupros eram vendidos, gerando lucro para o senhor. Sim, lógico. A escravidão, entre muitos absurdos, cultuou o estupro como método de reprodução.
Na República Velha, o coronelismo dava as ordens. Violência e práticas misóginas davam a tônica na sociedade. O marido impunha suas vontades e desejos, enquanto, sem alternativa, a esposa cedia à arbitrariedade. Existem relatos de punições às mulheres que iam desde apanhar com varas cravejadas de espinhos, dormir ao relento, passar fome e ser amarrada ao pé da cama enquanto o marido, no mesmo aposento, deitava-se com a amante.
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E a violência continua. É severa e perturbadora. Vivemos ainda em uma sociedade onde há indivíduos que consideram que a mulher vítima de estupro provocou a situação. E hoje surgem depoimentos assustadores de universitárias denunciando abuso sexual em festas na maior e mais respeitadas instituição de Ensino Superior do país.
Mas eis que, como nunca na história deste país, o estupro foi uma das principais causas da destruição de dignidades. ‘Estupra, mas não mata’ é a morte. Do mesmo naipe da famigerada ‘Não estupro você porque não merece’. Frases de políticos. Representantes da população. Existe muito pecado deste lado do Equador. O Brasil está muito longe de ser um país de liberdade sexual, justo e igualitário. Vivemos em uma sociedade reacionária que faz do passado cada vez mais o presente.
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Breno Rosostolato é professor de Psicologia da Fasm
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