Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Como espécie de figurinha carimbada, o apagão, que mostra sua face impiedosa justamente no calor abrasador de um verão com temperaturas de sensação térmica batendo os 50 graus, expõe uma de nossas mais velhas mazelas de infraestrutura, que é a deficitária produção de energia. A crise não é de agora. Há décadas vem exigindo dos governos investimentos vultosos na construção de usinas hidrelétricas e no incentivo a novas fontes limpas, como a eólica e a solar, já tratadas aqui neste espaço na segunda-feira.
A grave estiagem que solapa os estados do Sudeste, principalmente, não pode ser aceita como única desculpa. Ao contrário, prevista por vários institutos e organismos internacionais, como o Banco Mundial, a seca dos reservatórios poderia ter deflagrado um programa de contingenciamento lá atrás para que a luz não nos faltasse agora.
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Além da flagrante falta de planejamento, blecaute de segunda-feira deixou evidentes as divergências sobre o que verdadeiramente ocorreu. Enquanto o ministro de Minas e Energia atribuía o apagão a uma falha técnica, a Operadora Nacional do Sistema o desmentia, afirmando que fez o corte preventivo por conta do pico de consumo para não deixar todo o país às escuras.
Já passa da hora de o setor energético ser tratado com mais seriedade e prioridade de política de governo. Basta de tentar tapar o sol com a peneira, como empurrar com a barriga o reajuste salgado das tarifas pelo uso mais caro das termelétricas, como fez a presidenta Dilma em plena campanha.
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Enquanto as grandes obras estruturais e as chuvas não vêm e a diversificação das fontes energéticas não sai do papel, que tal o governo vir a público e dizer à população, por exemplo, que a conta de luz ficará muito mais cara porque produzir energia não é barato? Seria uma ótima oportunidade para pedir também racionalidade no uso. A verdade sempre compensa.