Por bferreira

Rio - Clivagem social é o conceito usado pelos sociólogos para classificar a estratificação da sociedade por etnias, nível de educação e renda. No Carnaval, contudo, esta segmentação deixa de existir. Trata-se da única festa popular do planeta — desde a Antiguidade — em que pobres e ricos se unem sem preconceitos. Todos interpretam valores e inversões de valores através de fantasias, rebelando um jeito de ser e de se expressar — em alguns casos reprimido —, trazendo à baila a sua vontade de extravasar.

Na antiga Babilônia, o rito carnavalesco acontecia quando o rei abria a festa no período que antecedia o Equinócio — então o Ano Novo —, quando perdia seus emblemas do poder e era surrado em frente à estátua no templo sagrado, para demonstrar submissão à divindade. O escravo prisioneiro assumia os poderes e as regalias de rei. Fantasiava-se de monarca e tinha mulheres e tudo o que uma majestade poderia alcançar. Terminada a festa carnavalesca, o escravo era chicoteado e morto; na Quaresma, o rei voltava a exercer o seu poder de fato.

Naquela época, para a Igreja, o Carnaval era uma manifestação de orgias, como a festa de Baco, deus do vinho, que deu origem à bacanal, marcada por embriaguez e pelos prazeres da carne. Em resumo, a igreja interpretava o Carnaval como manifestação em que se invertia a relação de valores entre Deus e o demônio.

Hoje, o Carnaval, em conceitos mais amplos, é ‘show-business’ televisivo transformado numa grande encenação operística ao ar livre na Sapucaí. A Passarela de Niemeyer e Darcy resgata conceitos de igualdade social onde ricos e pobres interpretam suas personagens, traduzidas pelo carnavalesco.

No campo político, o Carnaval também é rico. Os blocos em todos os cantos da cidade retratam a rebeldia da juventude em dizer ‘não’ ao momento que o Brasil está vivendo. Máscaras de Graça Foster e de Cerveró e dos ladrões da Lava Jato se revelam como o que se tem de mais legítimo em uma sociedade democrática.

Wilson Diniz é economista e analista político

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