Por bferreira

Rio - O slogan do governo federal, “Pátria Educadora”, merece séria reflexão. É verdadeiro que a Educação, em todos os lugares, requer projeto público que a apoie. Em sua ausência, a explosão da demanda pode conduzir a um submercado de baixa qualidade para a população, embora de alta rentabilidade para os donos de escolas. Defendamos, então, a Educação pública. Esta requer a cooperação do setor privado, que, sem projeto público, acabará marginalizando seus possíveis consumidores, pois não é concebível em parte alguma do mundo maior produção sem maior Educação, nem melhores níveis de vida sem ambas. Sua base é o Ensino Fundamental, e a meta é a Educação vitalícia. O processo é inacabável: quanto mais instruído for um cidadão, mais continuará precisando de instrução durante a vida. Seu teste é oferecer conhecimentos inseparáveis do destino do trabalho.

Mas qual a realidade brasileira? Vivemos o tempo do analfabetismo funcional, que se manifesta no mundo corporativo. Mesmo capazes de identificar letras e números, indivíduos não conseguem interpretar textos e realizar operações matemáticas mais elaboradas. Tal condição limita severamente o desenvolvimento pessoal e profissional. Falta a muitos profissionais da média gerência a capacidade de interpretar de forma sistemática situações de trabalho, relacionar causas e efeitos, encontrar soluções e comunicá-las de forma estruturada.

O sistema educacional desova na sociedade uma geração de semianalfabetos. Faltam competências básicas relacionadas ao pensamento analítico e à articulação de ideias. O resultado é constrangedor e chega a ser cômico. Basta prestar atenção aos resultados do Enem. Colégios da rede pública não atingem grau mínimo para comprovar conhecimento, além de não terem conexão com as comunidades onde se inserem. É necessário ativar as iniciativas civis, as soluções locais para problemas locais, tudo isso dentro de uma estrutura legal de divisão de poderes, eleições transparentes e fiscalização das autoridades. As culturas regionais perecem no isolamento e florescem na comunicação. E a Educação é o processo para a conscientização política do jovem. Não será um falso slogan que resolverá os problemas do analfabeto funcional. É necessária uma diretriz verdadeira do governo, com prioridade para a Educação em todos os níveis.

Carlos Alberto Rabaça é sociólogo e professor

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