Por bferreira

Rio - A cada dia me espanto mais com a perversidade humana. E até me pergunto se uso a palavra certa: humana, para falar das histórias dramáticas que tomamos conhecimento pelos jornais e pela televisão. Como o caso do menino com paralisia cerebral, vítima recente do namorado da mãe. Cresci ouvindo relatos de madrastas más, nas histórias infantis e outras, na vida real, que nunca soube se eram verdadeiras ou não.

Com o passar do tempo e com as diferentes famílias que se formaram na vida contemporânea, as madrastas tiveram suas imagens melhoradas. Nem todas é bem verdade. Basta lembrar do caso Isabela Nardoni e a imagem da madrasta monstruosa volta à tona com uma força extraordinária. Mas no momento que estamos vivendo, o que mais tem me assustado é a figura do padrasto, que as histórias infantis pouparam ou ignoraram desde sempre. Não sei se por conta da maior visibilidade da maldade humana, ou do aumento da perversidade de modo geral, ou até mesmo da falta de critério e de bom senso das mulheres ao buscar um novo companheiro, o fato é que os tais padrastos são hoje protagonistas de maldades que chegam a dar náuseas. Confesso que não consegui ver inteiro o vídeo do espancamento do menino de São Gonçalo. Quase vomitei. O que há de humano num ser vivo que espanca violentamente outro ser vivo doente e indefeso? Como suportar tamanha perversidade? O que fazer com uma criatura destas? Mas é claro que não só os padrastos ou aquele especificamente que me incomodam e me horrorizam. E é claro que há, felizmente, outros muitos e muitos padrastos bons, amorosos e humanos de verdade, que legitimam a paternidade. A questão não está no segundo ou terceiro marido desta ou daquela mãe.

Está na piora evidente do ser vivo, que me recuso a chamar de humano. E isto vale pro noivo que espancou os cachorros da namorada, pro funcionário da loja de animais que tortura o cão levado para o banho, para o bandido que estupra, para o maldito que bolina a estudante no ônibus e para outras dezenas de fatos e relatos violentos. O que há de humano num ser abominável que tortura outro? Ou que mata, espanca ou estupra? O que há de humano num ser vivo que espanca até a morte um garoto cujo crime é ser filho de pais gays? Ou que tortura, mata ou enforca homossexuais por conta da preferência sexual do outro? Com que direito? Baseado em quê?

O que fazer com estas pessoas? Nem venham me falar em pena de morte. Sou contra. O que fazer, efetivamente, para melhorar (será que a palavra é esta?) o chamado ser humano? Onde é que nós, enquanto sociedade, enquanto gente, enquanto família, falhamos? O que estamos fazendo, individual e coletivamente, para mudar este quadro? Por onde vamos recomeçar a construir gente melhor? Cartas, ou melhor, e-mails para a redação.

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