Por felipe.martins

Rio - Uma Educação crítica e cooperativa é capaz de reproduzir as bases materiais e espirituais de uma sociedade baseada na solidariedade. Não diferimos dos animais por nossa capacidade de pensar, e, sim, pela capacidade de reproduzir nossos meios de sobrevivência.

Uma Educação libertadora é a que almeja conquistar hegemonia por consenso, por práticas efetivas, e não por coerção ideológica. Deve abranger todas as disciplinas escolares, das ciências exatas à Educação Física.

As relações mercantilistas influem nas concepções daqueles que as adotam ou se deixam reger por elas. Tais relações acentuam o individualismo e induzem os educandos a acreditar que o mercado obedece a uma “lei natural”, e que fora dele não há alternativa...

Há que perguntar: para que serve a Educação? Para adaptar os educandos ao status quo? Para transmitir o patrimônio cultural da humanidade como se ele resultasse da ação destemida de heróis e gênios? Para formar mão de obra qualificada ao mercado de trabalho?

Um Educação crítica e solidária engloba alunos, professores, funcionários e suas respectivas famílias. E ultrapassa os muros da escola para se vincular participativamente ao bairro, à cidade, ao país e ao mundo. As portas da escola permanecem abertas a movimentos sociais, atores políticos, artistas, trabalhadores. E a ótica de seu processo pedagógico enfatiza esta verdade que a lógica mercantilista tenta encobrir: tanto a evolução da natureza quanto a história da humanidade têm seus fundamentos muito mais centrados na cooperação, na solidariedade, que na seleção natural, na competitividade e na exclusão.

O valor da escola se avalia pela capacidade de inserir educandos e educadores em práticas sociais cooperativas e libertadoras. Por isso é indispensável que tenha clareza de seu projeto político-pedagógico, em torno do qual deve prevalecer o consenso de educadores. Sem essa perspectiva, a escola corre o risco de ficar refém da camisa de força de sua grade curricular, como mero aparelho burocrático de reprodução do saber

Reinventar o futuro é começar por revolucionar a escola, transformando-a em um espaço cooperativo no qual se intercalem a formação intelectual (consciência crítica), científica e artística de protagonistas sociais comprometidos eticamente com os desafios de construir outros mundos possíveis, fundados na partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano.

Frei Betto é autor, em parceria com Mário Sérgio Cortella, de ‘Sobre a esperança’

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