Por felipe.martins

Rio - Tenho o maior respeito pela história e pela inteligência criativa do jornalista e político Fernando Gabeira. Em comício na Cinelândia, em 1986, citou um jovem de 15 anos que discursou na sua campanha em Maricá. Este jovem era eu! Vem daquela época minha admiração por ele. De lá pra cá houve aproximação política e ideológica do Gabeira com o PSDB e com o pensamento hegemônico no mundo. E agora passou a trabalhar para o Grupo Globo, com salário de astro do futebol. Como funcionário dos Marinho, publicou artigo há uma semana com críticas a mim, ao PT, a Dilma e a Lula.

A essência de sua preocupação é justa e correta. O Brasil não precisa transferir a luta política do terreno das disputas eleitorais para a luta campal. Mas há uma incitação articulada, bem paga, em torno do golpismo: impeachment, golpe civil judicial, intervenção militar. Há uma violência latente e real. Quero dizer com a responsabilidade de quem dirige a seção estadual do partido que governa o país: não queremos o confronto. Mas não vamos deixar de reagir e partir para a porrada se formos agredidos! Mais: só se evita a guerra quem se prepara a ela. No Rio, vamos nos preparar. Os fascistas não passarão!

É claro que a corrupção que veio à tona é motivo de indignação. É verdade também que podíamos ter agido com mais disposição para combater a corrupção que já era endêmica nos governos anteriores (inclusive FHC). Mas, cazzo! A Polícia Federal e o Ministério Público só ganharam autonomia e condições de investigar os esquemas em nosso governo. Antes tudo era engavetado, e ninguém era preso.

No entanto, uma crítica do Gabeira, mesmo carregada de imprecisão, exagero e rancor, precisa ser levada em conta. Temos muitos erros. O hegemonismo e a arrogância entre eles. Temos que ser capazes de dialogar, de reconstruir um universo utópico. Temos que baixar o espírito de Darcy Ribeiro, Florestan, Freire, Suassuna, Sérgio Buarque, Callado, Furtado...

Trata-se agora de trazer reformistas, alternativos, ambientalistas, intelectuais, grupos de juventude, sem-teto, sem-terra, socialistas, comunistas e anarquistas para uma concertação. O governo tem instrumentos jurídicos para impor pauta de reformas pactuada com esses setores. Vamos desbloquear os corações, Gabeira?

Washington Quaquá é presidente estadual do PT e prefeito de Maricá

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