Por bferreira

Rio - Exemplar a decisão do Ministério da Justiça da Itália de deferir a extradição de Henrique Pizzolato, único réu condenado do Mensalão que ainda estava em liberdade — irregular, fruto de uma fuga covarde, há quase dois anos, que ridicularizou as autoridades brasileiras. O país tem 20 dias para buscar o ex-diretor do Banco do Brasil — e já prometeu fazê-lo, para que cumpra os 12 anos e meio de prisão. Aí, sim, será enfim concluído um libelo contra a impunidade.

Pizzolato saíra do país antes mesmo da condenação. Usou passaporte falso, em nome de irmão já morto, e peregrinou pelo Sul, pela Argentina e pela Europa até conseguir pouso na Itália, onde possui cidadania — e não teve dificuldades na viagem, mesmo respondendo a processo no Supremo Tribunal Federal. Dada a complexidade dos processos de extradição, não seria fácil trazê-lo à Justiça.

E sua defesa explorou muito bem esse fato: alegou que as penitenciárias brasileiras não respeitavam os direitos humanos, razão pela qual Pizzolato deveria ficar mesmo na Itália. A primeira instância aceitou a tese, felizmente rechaçada na revisão do caso, agora ratificada. Ainda que trate de problema real nas cadeias brasileiras, o argumento é uma falácia gatuna: contesta-se a execução da pena, mas não se profere palavra sobre a condenação.

E não se pode levantar suspeita acerca do julgamento, um dos mais exaustivos da história do Supremo, obedecendo a todos os ritos previstos na lei, incluindo os confusos embargos. Não foi cerceada a defesa de ninguém. Exatamente por isso, foi um escárnio a fuga de Pizzolato. Felizmente não acabou em impunidade — ou em pizza. Espera-se que o Brasil sare dos traumas do Mensalão e do Petrolão, conluios que contaminaram até a raiz as relações do poder com partidos e empresas. É necessário virar a página. Será mais fácil com Pizzolato preso aqui.

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