Por adriano.araujo

Rio - Quando o protesto vira bagunça — neste caso, o panelaço —, o desejo de fazer barulho satisfaz mais do que conquistar mudanças pelo ato. Bater panelas e andar pelas ruas ‘chutando lata’ dá quase no mesmo. A sensação é que os bairros se transformaram em cozinhas, ridicularizando a reivindicação e dando motivo para risada aos que parecem imunes ao que se passa nas ruas. Abafar a voz do PT com barulho de cozinha, convenhamos, é hilário.

Virou chacota o que aconteceu semana passada, e terminou em piada o aumento de vendas do utensílio, que mais serve para cozinhar que para protestar. A propósito, o protesto é que foi cozido, não a comida, já que a panela mudou de função, para fazer barulho fora do fogão.

Mas quem bateu panela mesmo foi o PT. O partido mente, distorce tudo e nada diz, parece coisa de doido. Por falar em loucura, Lula, com cara igualmente compatível, se pronunciava na mesma hora, quase batendo panela na TV. Não falando sozinho, ele falava para muitos. Vale lembrar que a presidenta e partido foram eleitos por voto popular, por desejo da maioria, isso não se pode negar. Se a eleição foi ganha na honestidade ou não, são outros quinhentos.

Vivemos na terra das contradições. Nesse segmento, assistir ao Partido dos Trabalhadores votar a favor de medidas contra eles próprios, os trabalhadores, denuncia a contradição humana ambulante. Jean Paul Sartre costumava dizer: “Somos o que não somos, e não somos o que somos.”

Certas ou erradas, as medidas adotadas como prioridade — e que visam à estabilidade das contas do governo — são contra o trabalhador; a vida e a política são contraditórias, faz sentido, não? Diminuíram os gastos com o seguro-desemprego. Só uma questão: esses mesmos senhores que veementemente votaram e defenderam essa tese, na contramão ou na contradição, foram os mesmos que, com urgência, antes desta votação — sem perdão e na maldade — aumentaram em 60% seus salários.

Não sei bem que matemática ou princípio de economia é esse que tira do trabalhador direitos e transfere para eles mesmos em forma de benefícios. Isso estabiliza mesmo as contas do governo ou apenas desloca verbas? Fica a pergunta, a reflexão e a resposta com a palavra da moda: desinvestimento no trabalhador, e investimento nas mordomias. Assim caminha o milagre econômico nesse Brasil de meu Deus!

?Fernando Scarpa é psicanalista

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