Rio - Em um país com demandas históricas na saúde e educação, não deixam de ser um contrassenso os cortes de R$ 11 bilhões e R$ 9 bilhões anunciados pelo governo nos dois setores, respectivamente. Sobretudo após tantas promessas de maiores investimentos nas áreas, que ficam como mais uma retórica política. Decerto que as drásticas medidas são necessárias para ajustar as contas públicas e fazer girar a roda da economia, criando mais empregos e desenvolvimento ao país. Mas por mais que o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, encarregado de dar a má notícia na sexta-feira, se esforçasse para minimizar o bloqueio nos gastos, aos brasileiros, sobretudo os mais carentes que sofrem na pele no dia a dia a penúria de hospitais e escolas públicas, a sensação é de que o quadro se agrave ainda mais e de que a educação e a saúde poderiam ter sido poupadas.
No Rio, a drástica diminuição de verbas federais chega em um momento em que os dois setores atravessam grave crise, como O DIA vem mostrando em série de reportagens. Unidades hospitalares de referência, como o Rocha Faria, têm o funcionamento ameaçado por falta de um serviço elementar, que é o recolhimento de lixo. O mesmo drama vivem universidades, como UFF, UFRJ e Uerj, com falta de pagamento a terceirizados, suspensão de aulas, protestos de estudantes e invasões a reitorias. No Ensino Fundamental, o quadro é mais aterrador. Escolas da periferia precisam de reformas urgentes enquanto outras agonizam, como o Antônio Houaiss, no Méier, que funciona precariamente em casa alugada.
A sensação que fica à sociedade é que faltou ao governo cortar na própria carne. Em vez da facada em setores tão cruciais, bem que poderia, por exemplo, enxugar a máquina com a redução de seu ministério, de 42 pastas, o maior da história da República. Outra providência seria um pacto nas três esferas — municipal, estadual e federal — para endurecer os mecanismos de controle e conter toda a dinheirama que escoa pelos ralos da corrupção. Quem sabe assim não sobrassem mais verbas aos hospitais e às escolas?