Rio - Há muitas crianças nas ruas, parte de imensos estoques sociais marginalizados em busca de estratégias de sobrevivência, sem referências de família e de educação, vida incompatível com a dignidade humana, incapazes de mudar sua circunstância perversa.
Construímos uma sociedade forte economicamente, mas fracassamos em distribuir a todos a riqueza que produzimos. Desigualdades são naturais entre os homens; a exclusão não é humana. Excluídos estão em toda parte, não apenas os filhos do ventre das ruas, e temos atuado nas consequências que este problema traz à sociedade, não em suas causas. Somos escravos da violência.
O olhar para o passado orienta o olhar para o futuro. Sem ir mais longe na história, a Lei do Ventre Livre, 1871, libertou os filhos dos escravos sem garantir-lhes sustento e educação. Depois, estrebarias de Quintino foram adaptadas para receber crianças que viviam nas ruas. Em 1926, na então erma Ilha do Governador, foi criada a Escola João L. Alves para menores infratores. Fluxos migratórios do campo para a cidade, anos 30, ampliaram as desigualdades, muitos sem trabalho e renda. Mais rico que o Japão, nos anos 50 o Brasil iniciou ciclo de crescimento, mas ainda não consolidou modelo de desenvolvimento que garanta a todos inclusão social: família, escola transformadora, trabalho e renda.
Desenvolvimento é processo de fortalecimento global do poder nacional para a realização do bem comum. A exclusão social impõe cicatrizes profundas, e astronautas das ruas continuam viajando para a Lua e as estrelas com o uso do crack ou de solventes.
Por que políticas sociais básicas e compensatórias falham? A política atual é de repressão, amplia sanções, reduz maioridade penal, mais prisões inumanas para mais adolescentes. Meninos em exclusão ficam adultos nas ruas, tragédia que a sociedade reproduz há séculos. Rua não é boa mãe nem boa escola para ninguém. Rua não é lugar de menino! A sociedade luta contra a violência que sofre dos meninos, mas não contra a violência que sofrem os meninos. Se não entendermos o problema, como solucioná-lo? Panta rei.
Ruy Chaves é diretor da Estácio e da Academia do Concurso