Por bferreira

Rio - A corrente que demoniza motoristas de ônibus ganha força quando se noticiam tragédias como a de Cordovil, terça-feira. O caso do veículo que deliberadamente entrou pela contramão e matou uma criança, ferindo a mãe, chocou os cariocas — mas não foi o único da semana. Quarta-feira, um ônibus despencou de viaduto em São Gonçalo, felizmente sem mortes. É muito fácil render-se ao discurso simplista de apedrejar apenas rodoviários, detentores, sim, de parte da culpa, mas as deficiências do setor têm muitas causas.

No Grande Rio, boa parte dos deslocamentos se dá em ônibus. Não fossem pelos corredores BRT e BRS, até hoje os coletivos estariam espremidos no trânsito pesado. E a velocidade média ainda não é das melhores, o que gera irritação em quem conduz e pressões por cumprimento de horário. Este é um componente da crise. Somam-se a ele o estado nem sempre adequado dos carros, a dupla função com o gradual fim dos trocadores e a falta de um sistema efetivamente racional, que usasse o melhor de cada modal — promessa de anos da prefeitura.

Na tragédia de Cordovil, colocaram uma placa para sinalizar o óbvio que o motorista preso e muitos outros ignoravam: contramão não é atalho. Que se ponham dois guardas para multar quem desrespeitar leis de trânsito elementares naquele ponto; mas tudo isso é paliativo. Já que o transporte de massa por trilhos é limitado, que se garantam condições para ônibus mais seguros: racionalizar linhas; expandir corredores exclusivos; universalizar a bilhetagem eletrônica; e valorizar o profissional, capacitando-o e remunerando bem.

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