Rio - Lá por meados do século 19, os franceses pensaram uma Educação baseada em três pilares tradicionais: a família, a igreja e a escola. À família caberia uma Educação desde o berço, onde as boas maneiras, o respeito ao semelhante e a capacidade de partilha entre os irmãos e mesmo pais seriam incrementados, de modo que as crianças, quando fossem para a escola, já levassem uma série de alicerces em sua Educação.
Esta proposta supunha um segundo pilar, oriundo da convivência das famílias e das crianças com a igreja. Ali seriam tratados os valores a refletir na convivência social, os princípios morais aprendidos, tendo como cosmovisão as leis de Deus inspirando as leis humanas.
À escola caberia um terceiro pilar, marcadamente intelectual; embora como função supletiva, não deveria furtar-se às intervenções em relação à Educação social que deveria vir de casa, e a moral e ética, da igreja. O que ocorreu neste último sesquicentenário da vida humana foi a quebra de, pelo menos, dois pilares nesta proposta: a família e a igreja. A mesma França torna-se cúmplice de derrocada do pilar religioso por ter sido o berço do positivismo, agnóstico em sua origem e inspirador de sociedades laicas. O materialismo e o consumismo reforçaram o abandono do mundo religioso, e os valores ficaram esquecidos.
A família, com a Revolução Industrial que se intensificou, a liberação sexual e as liberdades individuais com todos os seus objetivos, sofreu um esfacelamento nunca visto, seja pela quantidade, seja pela rapidez. O terceiro pilar, hoje, sofre a pressão total do peso de uma Educação que não conta mais com os outros dois reforços. Os professores encontram-se despreparados, sobretudo nos dois campos mais fracos, até porque fazem parte desta mesma sociedade, convivendo com os mais diversos valores e cosmovisões diferentes e desafiantes.
Se há um problema básico, qual seja o da formação acadêmica do professor, quando adentramos nas questões familiares, éticas, morais e religiosas o complicador aumenta, e a diversidade acompanha.
Este o grande dilema, incapaz de ser superado pelos projetos acadêmicos e pelas sugestões de leis que impeçam o suposto assédio pedagógico.
Hamilton Werneck é pedagogo e escritor