Por bferreira
Rio - O novo massacre em Paris vai gerar uma reação já anunciada: haverá um aumento dos ataques a territórios controlados pelo Estado Islâmico e um aperto nos esquemas de vigilância, controle e repressão. Medidas que, embora previsíveis e justas — não se pode capitular diante do terror —, tendem a gerar ainda mais ódio e novos atentados. Ao mesmo tempo, é razoável supor um crescimento do preconceito contra muçulmanos que nada têm a ver com os ataques. Não há, pelo jeito, uma saída que não corra o risco de alimentar o ciclo de vingança.
A falta de melhores alternativas não impede, porém, que se busque a razão de tantos e tantos jovens aceitarem matar e morrer. Não se trata de absolver os terroristas nem de amenizar suas culpas, os crimes que cometeram não podem ser perdoados. Mas é preciso tentar entender a raiz do mal e sua capacidade de sedução.
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Não dá pra esconder o fosso que separa a prosperidade europeia e norte-americana da pobreza em outras partes do mundo, inclusive em ex-colônias de países como a França. É impossível ignorar o trauma gerado por sucessivas e desastradas intervenções ocidentais em países islâmicos. Seria ilógico acreditar que o filho ou o neto do imigrante considerasse normal a perpetuação do ciclo de pobreza que o condena ao subemprego e à periferia das capitais europeias. A ausência de esperança, a revolta e o desencanto com a política convencional servem de combustível para o radicalismo e ajudam a explicar o injustificável e inaceitável, a adesão ao gesto extremo e criminoso. Sobrevivente do ataque ao ‘Charlie Hebdo’, o cartunista Riss me disse, em São Paulo, que a Síria, base do Estado Islâmico, virou uma espécie de “Woodstock islâmico”, tamanho o fascínio que exerce sobre jovens europeus.
Basta olhar para o lado, para a nossa cidade, para constatarmos os jovens que, desencantados, embrutecidos, sem qualquer esperança, trocam suas vidas não por uma ideologia ou por uma religião, mas por objetos que simbolizam alguma riqueza ou poder — roupas, tênis, celular, fuzil. A vida, a deles e a de suas vítimas, não têm qualquer valor. Uns usam Deus para justificar seus crimes e gritam “Alá é grande!”; outros, mais pragmáticos, “Perdeu, perdeu!”. São, no fundo, gritos muito parecidos. Talvez ainda seja tempo de evitar que, pelo menos por aqui, tudo fique ainda mais insuportável. O combate à barbárie tem que ter várias frentes, não pode se limitar à guerra e às ações policiais, é preciso também lutar pelos corações e mentes dos que são atraídos pela pregação assassina.
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E-mail: fernando.molica@odia.com.br