Por bferreira
Rio - O título acima pode parecer estranho, quase um jogo de palavras. E é. Mas vamos por etapas. O ISS significa imposto sobre serviço e é exclusivo do município. Aliás, aí está mais uma sigla, neste cipoal muitíssimo abusivo, cá no Brasil, da multiplicação assustadora das abreviaturas de palavras. Também cabe reconhecer que este delírio de compactação de letras é acarinhado, em especial, pelos governos. Ou seja, abreviam-se palavras para economizá-las. Exercício de refinada ironia, até porque sabemos que fazer economia nunca foi o forte das repartições.
Mas deixemos isso para lá. Não vale prosseguir teorizando sobre estes absurdos — de fazer corar apóstolos do surreal. Aliás, o que quero mesmo sublinhar aqui vem a ser o oposto de ações inconsequentes. O ISS veio a ser surpreendente fonte criativa para a cultura. Sim, ela mesma, a nossa desvalida cultura, sempre órfã de dotações governamentais.
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O mecanismo de utilizar-se o ISS pago por empresas para fomentar a criação intelectual foi genial: quem paga o imposto pode aplicar parte dele em cultura, mediante fórmula bem construída pela SMC (meu Deus, lá venho eu com mais uma inconveniência de sigla, o apelido, para íntimos, da eficaz Secretaria Municipal de Cultura). Pois bem, generosos milhões de reais a mais foram alocados por Eduardo Paes pra nutrir isenções fiscais em 2015 e 2016.
O assunto que lhes trago hoje não é banal. Pelo contrário. Prova exata disso tive esta semana, quando participei de encontro na ACRio (a nossa vetusta Associação Comercial), através do Conselho Empresarial de Cultura. A SMC juntou o binômio agentes culturais e empresas inscritas no ISS. Parecia milagre este acontecimento inédito de encontro formal, fazendo dialogar criadores, os agentes culturais, e criaturas, as empresas. Asseguro-lhes que foi a rodada de gestão mais provocadora de que participei em muitos anos.
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A ACRio, com Paulo Protasio à frente, abriu generosamente os auditórios para abrigar a prefeitura, representada ali por Marcelo Calero, secretário que idealizou o evento. E o resultado foi dos melhores para os sempre sofridos agentes culturais. Todos gravitando na grata aventura de fixar a face mais radiosa de qualquer cidade. E que sempre foi o acréscimo do saber, da criatividade, da provocação do espírito criativo.
Ricardo Cravo Albin é presidente do Inst. Cultural Cravo Albin