Os ursos tomaram o poder, parece um movimento coordenado
Por bferreira
Rio - Um susto ao passar pela Afrânio de Melo Franco: vários ursos marrons de três metros de altura amontoados em cima da marquise do Shopping Leblon, no lugar do Papai Noel. Para manter o espírito natalino, usavam o tradicional gorrinho de seda com uma bolota branca. Em Itaipava, no Shopping Estação, a mesma coisa. Os ursos tomaram o poder, parece um movimento coordenado. Na porta do shopping, um pai tentava, sem sucesso, convencer o filho a posar para uma foto. O guri chorava, com medo do ‘monstro’. Poderia ser mais assustador, pensei, se tivessem trocado o Papai Noel pelo Temer, o mordomo de filme de terror, segundo Toninho Malvadeza.
Os ursos tomaram o poderErnesto Carriço / Agência O Dia
Por falar nisso, minha mente forja imagens macabras de ursos atacando e devorando Papai Noel para usurpar seu lugar. “Era só o que faltava”, pensei. “Impeachment de Papai Noel!” Nada contra, muito pelo contrário. Odeio a figura. Por força do ofício, há 63 anos, em todos os dezembros, sou obrigado a fazer cartuns e charges sobre o velho lacaio do capitalismo, amado pelas crianças e pelos comerciantes. Para mim, equivale a uma condenação sem anistia. Pelo menos era o que eu achava até agora. Em 1920, o Bom Velhinho (risos), acredite, fazia propaganda de cigarros (Lucky Strike e outros), além de Martini, de alto teor alcoólico, e pasta de dente Colgate (para disfarçar o bafo de cigarro e álcool). Nada mais eticamente incorreto.
Em 1930 fez um contrato de exclusividade com a Coca-Cola, que popularizou definitivamente sua imagem: um velhinho barbudo, de bochechas avermelhadas, típicas dos bebuns — devia misturar cachaça na Coca-Cola, o popular Samba em Berlim do pós-guerra. Seu paradeiro é incerto: segundo os americanos, mora no Polo Norte; segundo os ingleses, na Lapônia, ao norte da Finlândia. No Polo Norte certamente teria morrido enregelado, vestindo apenas aquela roupinha de seda vermelha. Mantém sua fábrica de brinquedos explorando elfos e gnomos em regime de trabalho escravo. Locomove-se num trenó, sem carteira de habilitação, puxado por várias parelhas de renas.
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A Sociedade Protetora dos Animais nunca moveu uma palha em defesa dos pobres animais. Mas lá, como cá, o bicho tá pegando: o escritório de Papai Noel em Rovaniemi, Lapônia, só não foi à falência porque uma empresa de turismo quitou no último dia do prazo (28 de agosto deste ano) uma dívida de 206 mil euros ao Fisco finlandês. Não tá fácil pra ninguém.